Exportações de carne sustentam preços do boi gordo

Exportações de carne sustentam preços do boi gordo

Apesar da queda no consumo da proteína bovina, entressafra no Rio Grande do Sul colabora para pequeno aumento das cotações

Patrícia Feiten

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Com o aumento da inflação e a queda do poder aquisitivo, a carne vem perdendo espaço no prato do brasileiro. Apesar da demanda fraca na ponta do consumo, estudos mostram uma resistência dos preços do boi gordo nas regiões produtoras. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, que monitora o mercado paulista, a cotação da arroba de 15 quilos aumentou 0,12% no mês, estabelecendo-se em R$ 320,65 na quinta-feira (21). No Rio Grande do Sul, a pesquisa semanal do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro) da Ufrgs divulgada no mesmo dia aponta uma alta de 1% no valor do boi gordo expresso em quilo vivo, hoje de R$ 11,13, frente ao levantamento da semana anterior. Analistas do setor agropecuário atribuem as variações ao bom desempenho das exportações de carne bovina brasileira.

Segundo o professor Julio Barcellos, coordenador do NESPro, os embarques de carne vêm mantendo as cotações, mas a pequena reação do boi gordo no Rio Grande do Sul reflete também o período de entressafra da cadeia produtiva. “Era esperado que os preços fossem maiores. No entanto, o consumo está muito baixo, essa majoração dos preços está sendo um pouco tímida”, observa. A ampliação do Auxílio Brasil, que passará de R$ 400 para R$ 600 mensais até o final, terá um impacto positivo na população de renda mais baixa, acredita o professor. O pagamento do benefício ampliado começa a ser feito em 18 de agosto. “Isso vai repercutir no consumo, inclusive com perspectivas de um aumento mais significativo do preço praticado pelo frigorífico (na negociação com o pecuarista)”, afirma Barcellos.

No primeiro semestre deste ano, as exportações brasileiras de carne bovina aumentaram 21,5% na comparação com o mesmo período de 2021, atingindo 1,06 milhão de toneladas, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) divulgados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Em termos financeiros, o salto foi de 52% na mesma base de comparação, com uma receita de 4,08 bilhões de dólares de janeiro a junho deste ano. “Todos os meses, tem ocorrido crescimento em volume e faturamento, e a tonelada que o Brasil exporta está cada vez mais valorizada. Isso é o que tem dado sustentação de preços ao gado”, destaca o consultor Fernando Velloso, da Assessoria Agropecuária FF Velloso & Dimas Rocha.
No período analisado, o preço médio pago pelos importadores pela tonelada da proteína passou de 4,6 mil dólares para 5,8 mil dólares, uma alta de 25,1%. Para Velloso, essa valorização é resultado de um melhor posicionamento da carne brasileira no mundo, além do fortalecimento do próprio mercado internacional. “Há 10, 15 anos, operávamos na faixa de 1,5 mil a 2 mil dólares. O Brasil trabalhou para acessar muitos mercados e com isso vem conseguindo crescer em volume, mas também em valor médio da tonelada”, compara.

A carne bovina brasileira chegou a 132 países no primeiro semestre. Principal comprador, a China adquiriu 540 mil toneladas, volume 35,3% superior ao de janeiro a junho de 2021, e gerou uma receita de 3,6 bilhões de dólares, um crescimento de 86% na mesma base de comparação. Na sequência, Estados Unidos e União Europeia aparecem como os principais destinos.

Apenas em junho, o Brasil exportou 175 mil toneladas de carne bovina, 6,6% a mais que no mesmo mês de 2021. A receita obtida com os embarques no mês passado, de 1,14 bilhão de dólares, indica um crescimento de 36,8% frente ao mesmo período de 2021 e foi o melhor resultado para junho desde 1997.


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