Exportações de milho têm salto superior a 100%
Efeitos de conflito no Leste Europeu, câmbio favorável e bons preços da commodity explicam maior procura pelo cereal brasileiro em julho
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A guerra entre Rússia e Ucrânia, o câmbio favorável para transações no exterior e as boas cotações do milho vêm turbinando a procura pelo produto brasileiro. Em julho, o Brasil exportou 4,124 milhões de toneladas de milho, mais do que o dobro do volume embarcado no mesmo mês de 2021, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia. Fontes do Executivo confirmaram também a possibilidade de o Brasil embarcar o primeiro lote do grão para a China ainda neste ano. A certeza veio após reunião do governo com representantes do país asiático na última sexta-feira, na qual foram apresentados os protocolos sanitários dos embarques, para os quais já estão emitidas, inclusive, as licenças chinesas. As empresas brasileiras têm até o dia 19 para manifestar interesse na operação ao Ministério da Agricultura (Mapa), que concederá as habilitações.
O cenário para os próximos meses dependerá da demanda interna e do desempenho da safra norte-americana, que começa a ser colhida em setembro, avaliam consultores em agronegócio. O diretor da consultoria AgResource, Raphael Mandarino, atribui o salto de julho ao temor de que a Ucrânia, um dos maiores exportadores do cereal, não consiga honrar suas entregas. Desde o início da guerra, o país do Leste Europeu teve suas rotas de comércio bloqueadas pela Rússia. Na quarta-feira, após um acordo entre as duas nações, um navio com 26 mil toneladas de milho partiu do porto ucraniano de Odessa. A liberação ocorreu após acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU) para aliviar uma possível crise global de fome. Mas ainda há dúvidas sobre a retomada dos embarques de grãos através do Mar Negro. “Temos um cenário geopolítico que está fazendo com que Europa e outros países já garantam esse milho do Brasil”, afirma Mandarino.
Para o consultor Paulo Molinari, da Safras & Mercado, o volume exportado em julho não é “excepcional”, pois reflete uma base de comparação fraca. Ele observa que, no ano passado, problemas climáticos impactaram a produção do milho segunda safra na região Centro-Sul, o que desencadeou uma onda de “washouts” (rompimento de contratos de exportação) para atender à demanda doméstica. “Não há escassez de mercado interno, estamos em plena colheita de uma safrinha recorde. O ritmo (atual) é bom, mas está impulsionado por um preço externo ainda forte e um câmbio ainda desvalorizado”, avalia Molinari.
Na Bolsa de Chicago, os contratos futuros de milho para entrega de setembro a dezembro vêm sendo fechados em torno de 6 dólares por bushel. Por outro lado, o retorno do dólar a patamares acima de R$ 5 torna os produtos brasileiros mais competitivos para os importadores. “Há demanda mundial para milho brasileiro. Os preços no Mar Negro já voltaram, para o trigo e o milho, aos níveis anteriores à guerra”, diz Molinari.
O analista da AgResource destaca que o clima desfavorável atrasou o plantio de milho nos EUA. A expectativa é que o relatório do Departamento de Agricultura do país (USDA, na sigla em inglês) a ser divulgado no próximo dia 12 reduza as estimativas de produção, apertando o quadro de oferta e demanda global. Baseado em dados de line-up (programação de chegada e partida de navios) nos portos brasileiros, Mandarino estima que as exportações continuem em alta. “Para agosto, já temos 5,514 milhões de toneladas a serem embarcadas”, afirma.
A maior demanda internacional, porém, não deve afetar o suprimento interno, acredita o analista da Safras & Mercado. “O Brasil importou no primeiro semestre, período mais crítico de abastecimento. Poderá exportar 37 milhões de toneladas no ano que ainda teremos 10 milhões em estoques para 2023”, avalia Molinari.