Guerra entre Rússia e Ucrânia impacta cotidiano do campo

Guerra entre Rússia e Ucrânia impacta cotidiano do campo

Conflito, que completou um mês, influencia preços de insumos e grãos e compromete ação dos exportadores

Danton Júnior

Preços do trigo dispararam no mercado internacional desde o início do confronto no leste europeu

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O mundo mudou após o dia 24 de fevereiro de 2022 – e com o agronegócio não foi diferente. As consequências da guerra entre Rússia e Ucrânia, que completou um mês na última semana, interferem na cotação das commodities agrícolas e no preço dos principais insumos utilizados pelo produtor. De acordo com analistas, mesmo que haja um cessar-fogo em breve, o comércio internacional deve demorar a voltar à normalidade.

O conflito no leste europeu já impactou, de forma direta, no aumento do preço dos combustíveis, na disparada do preço dos insumos – especialmente fertilizantes – e na valorização do trigo. Problemas de logística também são observados, dificultando a exportação de produtos no mercado internacional. O professor Argemiro Brum, da Unijuí, ressalta que as sanções que os demais países vêm aplicando contra os russos estão criando problemas para que aquele país pague pela importação de alimentos. “Isso também trava em parte o comércio internacional, atingindo bastante as carnes que o Brasil exporta para a Rússia”, explica. Segundo ele, após conflitos desta natureza, dificilmente as relações financeiras retornam à normalidade num espaço curto de tempo.

Tanto Rússia quanto Ucrânia são grandes exportadores de trigo – somados, os dois países exportam cerca de 30% do cereal consumido no mundo. Com as exportações dificultadas em razão do conflito, os preços do grão dispararam. O mercado internacional está operando com valores acima de 11 dólares o bushel, enquanto que normalmente a cotação fica entre 5 e 7 dólares. No Brasil, a tonelada está cotada em R$ 1,9 mil, cerca de R$ 200,00 a mais do que o preço de um mês atrás. Brum afirma que, antes da guerra, a tendência era de redução na área de trigo para a safra 2022, devido aos altos custos de produção. A situação mudou com o conflito, mas o professor alerta que, se o produtor deixar para comercializar somente na época da colheita, em outubro e novembro, a cotação poderá não ser a melhor. “É bom fixar antecipadamente uma parte da futura safra”, aconselha o especialista. 

O conflito entre os dois países tem trazido problemas a empresas que possuem negócios com a Rússia. O advogado Elias Marques de Medeiros Neto, sócio do escritório TozziniFreire e especialista em agronegócio e resolução de disputas, chama a atenção para o fato de que, em grandes contratos envolvendo grandes players do segmento, é comum haver cláusulas de boas práticas. Por isso, ainda que uma empresa consiga arquitetar a operação, pode ser que ela esteja “amarrada” por alguma disposição contratual, em razão das sanções contra a Rússia. 

Segundo a advogada Vera Kanas, responsável pela área de comércio internacional do mesmo escritório, o conflito trouxe mudanças que não são temporárias. “A globalização como a gente conhece e o comércio regulado por regras foram realmente abalados”, explica. 


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