Preços do trigo retornam aos níveis pré-guerra

Preços do trigo retornam aos níveis pré-guerra

Safra do Hemisfério Norte alivia oferta do cereal, mas suprimento ainda reduzido e cenário de incertezas devem impedir baixa de cotações

Patrícia Feiten

Produção de trigo é calculada em 3,406 milhões de toneladas

publicidade

Depois de atingir a máxima de 12,85 dólares por bushel em 17 de maio, frente aos temores de desabastecimento gerados pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, as cotações do trigo voltaram aos níveis pré-guerra. Apesar do início da colheita do cereal no Hemisfério Norte, a oferta global tende a continuar apertada, e as incertezas com relação ao fluxo logístico na região do Mar Negro deverão garantir um ponto de sustentação para os preços em torno de 8 dólares por bushel, avalia o analista Elcio Bento, da consultoria Safras & Mercado.

Segundo o consultor, os contratos futuros de trigo na Bolsa de Chicago vêm sendo negociados nesse patamar desde o dia 5 de julho. Bento explica que a ausência do trigo ucraniano no mercado internacional será compensada pelo aumento da oferta de outros produtores, o que pressiona os preços. “Oitenta por cento de todo o trigo no mundo vai ser colhido de agora até setembro, é normal que os preços caiam nesse período”, observa. A Ucrânia deverá reduzir em cerca de 9 milhões de toneladas as exportações do cereal neste ano, enquanto o Canadá colocará no mercado 10 milhões de toneladas; a Rússia, 7 milhões de toneladas; e a União Europeia, 6 milhões de toneladas. “Só o Canadá já recoloca o déficit. Mas temos uma safra um pouco menor do que no ano passado, então existe uma sustentação (para as cotações)”, destaca Bento.

No primeiro semestre deste ano, o Rio Grande do Sul exportou cerca de 2,4 milhões de toneladas de trigo, de acordo com dados da Federação da Agricultura do Estado (Farsul). Mesmo com o recuo dos preços, o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (FecoAgro-RS), Paulo Pires, diz que os embarques continuam no foco dos triticultores gaúchos. A área plantada com o cereal no Estado estimada pela Emater-RS/Ascar neste ano é de 1,4 milhão de hectares – a maior em 42 anos –, e o setor espera uma colheita recorde de cerca de 4 milhões de toneladas a partir de setembro. “Não temos condição de absorver toda essa produção, principalmente no Rio Grande do Sul”, afirma Pires.

Na comercialização antecipada do trigo, porém, os produtores não conseguiram aproveitar as cotações elevadas para fechar contratos futuros. Segundo Pires, em torno de 400 mil toneladas já teriam sido negociadas com tradings para exportação, o que representa apenas 10% do volume projetado para a safra 2022. “O produtor, no início, não negociou, perdeu o timing (momento oportuno) dos preços. Mas vai exportar, não vai ter saída”, avalia o dirigente.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895