Rio Grande do Sul tem demanda recorde por seguro rural

Rio Grande do Sul tem demanda recorde por seguro rural

Mais de 90% das apólices contratadas foram acionadas

Patrícia Feiten

Estiagem desencadeou alta na demanda por seguro

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A estiagem que devastou a safra gaúcha de verão desencadeou uma demanda recorde pela cobertura de seguro rural no Rio Grande do Sul. Apenas de janeiro a abril deste ano, mais de 90% das apólices contratadas por produtores rurais foram acionadas, e o pagamento de indenizações chegou a R$ 2,47 bilhões no Estado. O valor é 25 vezes superior ao do primeiro quadrimestre de 2021, de R$ 100 milhões, e próximo da soma de todas as indenizações pagas no período de 2015 a 2021, de cerca de R$ 3 bilhões, afirma o gerente de seguros da Brasilseg, Daniel Nascimento, com base em dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep).

Segundo o executivo, o setor viu o índice de sinistralidade – relação entre as indenizações pagas e os prêmios arrecadados pelas seguradoras – disparar de 66% nos primeiros quatro meses de 2021 para mais de 1000% em igual período deste ano no Rio Grande do Sul. Em 2021,as companhias coletaram R$ 151 milhões em prêmios para fazer frente ao pagamento de R$ 100 milhões em sinistros. “Nos primeiros quatro meses deste ano, são R$ 2,5 bilhões em sinistros reservados e somente R$ 240 milhões arrecadados em prêmios no Estado”, compara Nascimento.

Nesse cenário, prevê o executivo, muitas seguradoras deixarão de operar no Rio Grande do Sul, e as que continuarem no ramo deverão restringir as coberturas oferecidas, assim como a área segurada na comparação com a safra 2021/2022. “Poucas companhias ofertaram (seguro) na safra de inverno. Vai haver uma área segurada menor em 2022 para a cultura do trigo e, certamente, para a soja essa área também será menor”, afirma Nascimento.

O produtor rural também pagará mais pela proteção. O custo do seguro na safra 2022/2023 deve aumentar de 30% a 35% na comparação com o ciclo passado, projeta Nascimento. “Mas fica muito difícil falar se a taxa de risco vai ser 8%, 9%, 10%, porque vai depender da cobertura a ser ofertada”, observa. Das 16 seguradoras atuantes no setor no país, diz Nascimento, nove operam no Rio Grande do Sul. “Hoje, todas as companhias, sem exceção, estão com sinistralidade acima de 100%. Isso significa que estão pagando muito mais sinistro do que recebendo prêmio”, explica.

No lançamento do Plano Safra 2022/2023, na quarta-feira (29), o governo federal anunciou a meta de atingir um montante de R$ 2 bilhões para o seguro rural em 2023. Para o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz, este foi o aspecto mais positivo do programa. “O seguro foi fundamental para o Rio grande do Sul neste ano e estava sendo posto em cheque, em razão da alta sinistralidade”, afirma Da Luz.

O Plano Safra 2022/2023 prevê o aporte de R$ 340,88 bilhões para apoio à produção agropecuária brasileira até junho do próximo ano, um aumento de 36% em relação ao programa anterior. Da Luz observa que a maior parte do crédito destinado aos grandes agricultores no programa é baseada em recursos com juros livres, que no novo plano aumentaram 69%, para R$ 145,18 bilhões. O montante com juros controlados cresceu 18%, atingindo R$ 195,7 bilhões. “Então, é um Plano Safra coerente, que sinaliza cada vez mais para a participação do mercado no crédito”, avalia o economista.

No crédito subsidiado, a taxa de juros para os grandes agricultores foi estabelecida em 12% ao ano, enquanto nos recursos com juro livre os percentuais dependerão de cada instituição financeira, diz o presidente da Farsul, Gedeão Pereira. “Mas (o Plano Safra) nos deu uma sinalização. Se o juro (controlado) viesse com menos de dois dígitos, o sistema de crédito ia oferecer mais (recursos) livres do que controlados. É um plano agrícola bem realista para a atual situação mundial e do país”, avalia Pereira.


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