Uso do herbicida 2,4-D não tem acordo entre os produtores

Uso do herbicida 2,4-D não tem acordo entre os produtores

Inquérito civil terá seguimento para investigação dos efeitos do produto em outras culturas

Cíntia Marchi

Faltou consenso entre os produtores que utilizam o herbicida 2,4-D em reunião ocorrida nesta quinta na Farsul

publicidade

Faltou consenso entre os produtores que utilizam o herbicida 2,4-D, como os sojicultores, e aqueles que querem suspensão do uso, como os viticultores, em reunião ocorrida nesta quinta-feira na Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul).

Diante disso, será dado seguimento ao inquérito civil aberto em 2015, no âmbito do Ministério Público, para investigar os efeitos da deriva do produto em outras culturas e a Secretaria da Agricultura dará início, na próxima semana, ao encaminhamento de uma regulamentação da aplicação terrestre dos agrotóxicos, em parceria com técnicos das entidades privadas.

Sem chegar a um entendimento, todos os lados saíram descontentes da reunião. "Esperávamos um consenso entre os setores. Já que não houve, vamos avaliar as provas técnicas juntadas aos autos e verificar se é o caso de judicialização ou não", disse a coordenadora do Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais (Nucam), promotora de Justiça Anelise Grehs.

O presidente da Farsul, Gedeão Pereira, disse ser contrário a “proibição de qualquer princípio ativo” e entende que o "2,4-D é um produto de altíssima qualidade e absolutamente seguro". Ele defendeu o regramento do uso das tecnologias de aplicação do herbicida e acredita ser viável a legislação ser criada antes de junho, quando recomeça a aplicação do 2,4-D nas lavouras.

Danos

A Farsul e a Aprosoja/RS reconhecem a existência dos danos da deriva do 2,4-D. O presidente da Aprosoja/RS, Luis Fernando Fucks, declarou que concordar com a "profissionalização da pulverização" e até mesmo com a fiscalização das propriedades. “Não vemos a fiscalização com bons olhos, porque a presença de fiscais no meio rural sempre foi motivo de conflitos, mas antes de perdermos esta molécula talvez seja a alternativa”, afirmou, ao garantir que "não há substituto à altura do 2,4-D em termos de eficiência e de custo".

De outro lado, o conselheiro do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Helio Marchioro, ressaltou que o diálogo ficou "prejudicado" em função de os produtores de soja não cogitarem a suspensão do herbicida. "Estamos diante de um pretenso prejuízo de uma atividade (soja) contra a sobrevivência de várias outras como o mel, a horticultura e a fruticultura em geral", criticou.

"No nosso entendimento, o mínimo de bom senso indicaria suspensão do uso". Marchioro afirmou ainda não ser contrário à regulamentação do uso, mas que acha inviável liberar o produtor "até que não se tenham condições objetivas e tecnológicas que garantam que não vamos ter mais o dano ou continuidade do dano".

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895