Três Passos vive expectativa de Justiça no Caso Bernardo

Três Passos vive expectativa de Justiça no Caso Bernardo

Fachada da residência onde menino morava tornou-se um mural com cartazes e flores

Henrique Massaro

Memória do menino se mantém em homenagens pela cidade e na casa em que morava

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É em uma casa de dois andares da rua Gáspar Silveira Martins, em um bairro predominantemente residencial de Três Passos, no noroeste do Estado, que a população deixou suas principais manifestações de um dos casos mais marcantes do município nos últimos anos. O imóvel de classe média alta era onde Bernardo Uglione Boldrini, de 11 anos, morava com o pai Leandro Boldrini e a madrasta Graciele Ugulini, dois dos acusados pelo seu assassinato, em abril de 2014. Desde que o crime ocorreu, a fachada do local se tornou uma espécie de mural. Nos cartazes pendurados, a comunidade pede por justiça. Menos de um quilômetro de distância dali, no Fórum da Comarca do município, o casal e outros dois réus – os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz – começam a ser julgados na manhã desta segunda-feira.

Na tarde de hoje, um domingo de céu nublado em Três Passos, a região onde se encontra a casa se mostrava pouco movimentada, sem muitos veículos e pedestres passando. No imóvel fechado, o aspecto era de abandono, principalmente pelo tamanho das plantas do jardim protegido pela grande onde estão pendurados os cartazes pedindo justiça por Bernardo. Na maioria deles, o nome do menino está acompanhado apenas pelo sobrenome Uglione, da mãe - Odilaine Uglione, que morreu em 2010 - , excluindo o do pai, o médico Leandro Boldrini. Em cerca de meia hora, dois carros com placas de fora de Três Passos passavam pelo local e paravam pela curiosidade do caso que vai a Júri Popular a partir desta segunda-feira.

Um deles era de Boa Vista do Buricá, município localizado a cerca de 80 quilômetros de Três Passos. O casal Juciele e Delmar Lenhard, de 29 e 39 anos, havia se deslocado no final de semana para uma festa e resolveu passar na casa onde morava o menino morto no crime que chocou o Estado e o país há cerca de cinco anos. Os motivos que os levaram até ali, segundo eles, eram um pouco de curiosidade e o desejo de justiça. “Só de vir aqui, já dá um aperto, uma tristeza no coração”, comentou Juciele.

Três Passos, segundo os moradores e de acordo com o que se pode perceber em uma tarde de domingo, é uma cidade calma. São pouco menos de 24 mil habitantes - de acordo com o último Censo do IBGE - no município emancipado há 74 anos. Nascido, criado e empresário da área madeireira local, Ivanes Zagonel, 60 anos, diz que a economia da região é movida principalmente pelo agronegócio. Há muita soja, suinocultura e avicultura. As pessoas, conforme ele, costumam se conhecer, característica típica do Interior. “Não temos violência. Assalto à mão armada quase não se vê”, explica. Em função disso, comenta que um crime contra a vida de uma criança foi chocante e marcou a população, que, na sua visão, espera por justiça. Ele também entende, no entanto, que o caso não deva manchar a história trespassense. “A cidade, em si, não pode levar a culpa e o ônus.”


Por volta das 16h deste domingo, a Brigada Militar (BM) isolava parte da avenida Júlio de Castilhos e ruas do entorno. É ali que fica localizado o Fórum de Três Passos, que deve se tornar um dos espaços mais movimentados dos próximos dias, já que o julgamento deve durar a semana toda. Apesar de o início estar marcado para as 9h30min, a região deve começar a ter um maior fluxo de pessoas nas primeiras horas da manhã. Às 8h, de acordo com o Ministério Público (MP), o promotor de Justiça Bruno Bonamente estará em frente à Promotoria de Justiça, ao lado do Fórum, para atender a imprensa, que faz ampla cobertura do caso.


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