Zuckerberg novamente encostado contra a parede

Zuckerberg novamente encostado contra a parede

Fundador do Facebook é confrontado com a maior crise da história dessa rede social

AFP

Zuckerberg novamente encostado contra a parede

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Muito ingênuo ou um lobo sob a pele de cordeiro? Aos 33 anos, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, confrontado com a maior crise da história dessa rede social, faz uso do mea-culpa e de promessas que parecem não atenuar as críticas contra ele. "O Facebook foi criado para aproximar as pessoas", se vangloriava em janeiro passado o jovem multimilionário que fundou a empresa há 14 anos. Hoje, as críticas se multiplicam contra o grupo e seu presidente após a empresa britânica Cambridge Analytica (CA) ter sido acusada de usar em seu benefício dados de 50 milhões de usuários da rede social.

Após dias de silêncio, duramente criticados, Zuckerberg acabou por se desculpar na noite de quarta-feira (21): "Trata-se de um abuso significativo de confiança e estou realmente preocupado", declarou o maior dirigente das redes sociais. O Facebook, que conta com 2 bilhões de usuários, ainda tinha uma capitalização de mercado de 500 bilhões de dólares na semana passada, mas cerca de 50 bilhões a menos na noite de quinta-feira (22). Esse pedido de desculpas não é o primeiro.

O jovem multimilionário já admitiu outros erros nos últimos meses em meio a polêmicas que movimentaram o grupo, acusado de divulgar informação e notícias falsas, de ameaçar a democracia, de provocar um vício que atrofia o cérebro, etc. Mas, mesmo com a sucessão de polêmicas, promessas e desculpas, "ele parece alguém que não sabe para onde vai", afirma Bob Enderle, analista do setor. "Eu comecei o Facebook, sou responsável pelo acontece na plataforma", disse Zuckerberg na quarta-feira, colocando-se ainda mais na mira dos analistas, especialistas e políticos. Zuckerberg, que continua vestindo camiseta e jeans, apesar de uma fortuna avaliada em 70 bilhões de dólares, "não soube atacar o problema", acredita a revista Wired, que em seu último número mostra-o cheio de hematomas como se tivesse recebido uma surra.

Acusado de reagir muito tarde, de pensar que consegue resolver tudo sem ajuda externa, o ex-aluno de Harvard, inserido no universo da programação desde os 11 anos, reflete uma imagem de executivo inexperiente e um pouco arrogante a qual soube mascarar até poucos meses atrás a ponto de a imprensa lhe atribuir intenções presidenciais. "Sua falta de experiência se revela novamente", disse Enderle, quem afirmou que Zuckerberg deveria ter buscado ajuda para solucionar a crise. 

"Ingênuo" e apressado

"Não é o herói que muita gente via nele, sua reputação e sua imagem foram fortemente afetadas", considerou o analista, que ainda disse que "se o Facebook fosse uma empresa tradicional, já teria falido". "Acredito que ele é sincero e motivado por seu desejo de aproximar (as pessoas), mas aparentemente cada vez mais frustrado pelas inesperadas consequências de sua ingênua ambição", escreveu o escritor e jornalista Devin Coldewey na revista TechCrunch. "Penso somente que se chegou a um ponto em que a melhor maneira de conseguir o que quer é sair".

Para muitos, o Facebook de alguma forma escapou do controle de seu criador, que muito jovem lançou o que até então não se passava de um conjunto de fotos da universidade e que logo se converteu na fórmula mágica que o deixaria rico: os dados pessoais dos usuários. Esse modelo econômico, de uma eficácia assustadora, atrai anunciantes publicitários em massa, ávidos por detectar as características dos membros da rede. Mas o modelo é frágil: baseia-se na confiança, agora duvidosa.

A empresa perdeu muitos pontos na Bolsa nos últimos dias, evidenciando a inquietação dos investidores. Os primeiros anos de Facebook já haviam sido agitados, com Zuckerberg na defensiva após ser acusado por dois ex-parceiros de ter roubado deles a ideia do Facebook, episódio abordado no filme "The Social Network" (David Fincher, 2010).

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