Sergio Moro cita ministros como testemunhas

Sergio Moro cita ministros como testemunhas

Eles estavam presentes em reuniões do ex-juiz com o presidente e foram mencionados para comprovar falas ditas por Bolsonaro

AE

"A decisão do Ministro Celso de Mello ressalta o avanço democrático brasileiro", disse a defesa em nota

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No depoimento que prestou sábado na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, o ex-titular do Ministério da Justiça e da Segurança Pública Sérgio Moro citou nomes de ministros do atual governo para reforçar suas acusações contra o presidente Jair Bolsonaro. Moro teve o cuidado de não implicar os ex-colegas de Esplanada em situações ilegais.

Os ministros estavam presentes em reuniões do ex-juiz com o presidente e foram mencionados apenas como eventuais testemunhas de falas ditas por Bolsonaro nos encontros, mostra reportagem da edição desta segunda-feira do jornal O Estado de S. Paulo.

Durante a oitiva, peritos da Polícia Federal extraíram do celular de Moro mensagens trocadas com o presidente, incluindo as que foram deletadas para aumentar o espaço de armazenamento do aparelho. O depoimento de Moro na sede da PF na capital paranaense durou mais de oito horas.

Uma varredura completa foi realizada no celular de Moro e localizou áudios de conversas do ex-ministro com Bolsonaro. Os peritos também copiaram mensagens trocadas por Moro com a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), algumas delas que também haviam sido deletadas para liberar espaço de armazenamento, mas que permanecem na memória do aparelho.

O próximo passo é a elaboração de um laudo no Instituto Nacional de Criminalística sobre as conversas e os áudios. Moro desmentiu acusações de apoiadores e militantes bolsonaristas de que gravou o presidente por mais de um ano. Perante a Polícia Federal, disse que isso é "absolutamente mentira" e que jamais gravou diálogos com Bolsonaro.

Conversas

O depoimento de Moro, que começou por volta das 14h de sábado, só terminou perto da 23h. O inquérito investiga suas acusações de tentativas de interferência política de Bolsonaro na chefia da corporação. O Planalto se preocupa com o andamento de inquéritos que apuram esquemas de divulgação de "fake news" e financiamento de atos antidemocráticos realizados em abril, em Brasília.

Uma das conversas obtidas pela perícia foi a divulgada por Sérgio Moro na qual Bolsonaro o encaminha uma notícia sobre inquérito do Supremo Tribunal Federal mirar aliados políticos do Planalto. "Mais um motivo para a troca", escreveu o presidente na mensagem.

O ex-juiz também exibiu conversa com Zambelli, em que ela pede para Moro aceitar uma vaga do Supremo em troca da mudança na chefia da PF. "Vá em setembro para o STF. Eu me comprometo a ajudar. A fazer o JB (Jair Bolsonaro) prometer." Moro respondeu que "não estava a venda".

Moro prestou depoimento acompanhado de um advogado. O inquérito aberto pelo ministro do Supremo Celso de Mello, a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, mira tanto o presidente quanto Moro. O ex-ministro é investigado por suposta denunciação caluniosa e crime contra a honra.

Ao anunciar sua demissão, Moro acusou Bolsonaro de buscar "uma pessoa do contato pessoal" para "colher informações" como relatórios de inteligência da PF.

"O presidente me disse que queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse colher informações, relatórios de inteligência, seja diretor, superintendente, e realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação. As investigações têm de ser preservadas. Imagina se na Lava Jato um ministro ou então a presidente Dilma ou o ex-presidente (Lula) ficassem ligando para o superintendente em Curitiba para colher informações", disse Moro, ao comentar as pressões de Bolsonaro para a troca no comando da PF.

No mesmo dia que Moro pediu demissão, Bolsonaro fez um pronunciamento para rebater as acusações do ex-ministro e afirmar que tem a prerrogativa de substituir o comando da PF.

O presidente também acusou o ex-ministro de dizer a ele que aceitaria a substituição do diretor-geral da corporação desde que fosse indicado para uma vaga de ministro do Supremo. Declaração negada pelo ex-ministro da Justiça.


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