Estiagem amplia crise da área leiteira do RS

Estiagem amplia crise da área leiteira do RS

Produção das vacas cai por causa das pastagens secas e criador considera preço que recebe insuficiente para cobrir custos

Patrícia Feiten

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A estiagem que assola o Estado desde novembro preocupa a pecuária leiteira. Além de ter comprometido o desenvolvimento das pastagens, a falta de água devastou as plantações de milho, dificultando a estocagem de silagem para a alimentação das vacas. A produção caiu, os custos subiram e o preço pago pelo leite é considerado baixo para fazer frente às dificuldades do setor.

De acordo com o boletim divulgado na terça-feira passada (24) pela Emater/Ascar-RS, a estiagem reduziu em 2,2 milhões de litros a produção diária de leite no Estado, com uma perda média de 82,5 litros por propriedade. Os danos da seca podem ser verificados não apenas nas pastagens anuais de verão, mas também nas perenes, que são mais resistentes à falta de água, segundo o gerente técnico da Emater, Jaime Ries. “Associado a isso, há o efeito do estresse calórico, que contribui para que o animal consuma menos”, explica.

O presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês (Gadolando), Marcos Tang, diz que, na falta de pasto e milho, os produtores recorrem a alternativas inusitadas, como bagaço de uva e laranja, e à suplementação alimentar para manter as vacas. Essas medidas, porém, acabam impactando a produtividade. “A maioria pega esse milho raquítico (afetado pela seca) e guarda no silo para ter alguma coisa”, constata Tang. O pecuarista lembra que, no Rio Grande do Sul, a base da nutrição dos animais é silagem de milho. “E nós não produzimos o suficiente desde a safra 2019/2020”, recorda.

Segundo o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Eugênio Zanetti, em alguns municípios do Médio e Alto Uruguai, como Alpestre, a produção de leite caiu 50%. “Temos um preço médio de R$ 1,80 a R$ 1,90 para o litro, e o quilo da ração custa de R$ 2,50 a R$ 2,80”, compara. Sem comida para os animais e pressionados pelos custos, muitos pecuaristas abandonam a atividade. “Esse movimento está se acentuando (com a estiagem) e não atinge só o pequeno (produtor); o médio e o grande também estão desistindo”, diz.

A indústria também sente o efeito da seca. As empresas associadas ao Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat-RS), que captam em torno de 85% da produção de leite no Estado, recebem nesta época de 11 milhões a 11,5 milhões de litros diários de leite. Nas empresas monitoradas, estima-se uma queda de 1 milhão de litros por dia nos volumes recebidos dos produtores, segundo o secretário executivo da entidade, Darlan Palharini.


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