Chuva deve provocar melhora temporária no nível dos rios da Região Metropolitana

Chuva deve provocar melhora temporária no nível dos rios da Região Metropolitana

Frente fria avança entre esta quarta e quinta-feira, pela região sul do país, e coloca fim à onda de calor de duas semanas no RS

Felipe Nabinger

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A chuva prevista para os próximos dias é aguardada na Região Metropolitana não só para amenizar as altas temperaturas, mas também para aumentar, mesmo que temporariamente, o nível dos rios. Conforme a Sala de Situação da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), em medição realizada às 10h15min desta quarta-feira, 26, o nível do Guaíba no Cais Mauá era de 23 centímetros, quando o considerado normal seria 78 cm. Além da estiagem, o baixo nível dos rios que deságuam no Guaíba também impactam neste cenário.

O Rio do Sinos, no trecho de São Leopoldo, atingiu níveis menores do que nos últimos dois anos, conforme relatórios da área técnica do Serviço Municipal de Água e Esgoto (Semae). De acordo com a Diretoria de Operação, nesta quarta, o nível de captação estava em 1 metro, o que representa menos da metade da média de todos o ano passado, que foi de 2,26 m. “Nós modernizamos o nosso sistema de captação, o que nos deixa mais seguros em relação à possibilidade de desabastecimento na cidade, mas os efeitos da estiagem são preocupantes, seja com a baixa do nível do Rio dos Sinos, ou mesmo com a previsão que somente no inverno teremos um período relevante de chuvas”, alerta o diretor-presidente do Semae, Ary Moura.

O cenário do Rio Gravataí foi tema de reunião do governador Eduardo Leite, no Palácio Piratini, com prefeitos da Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal), na última terça-feira, 25. Foram abordadas as dificuldades de abastecimento de água na região durante o período de estiagem. Medidas como a instalação de balsas no leito do rio, a fim de facilitar o bombeamento da água, o início das obras de conclusão de uma adutora de água tratada em Cachoeirinha, a substituição de redes e adutoras e a previsão de novos reservatórios foram elencados pela Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) como estratégias de mitigação.

Outra demanda para o enfrentamento da situação, a construção de 13 microbarragens, já foi encaminhada pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano e o projeto está em fase de estudo de impactos ambientais, conforme o titular da pasta, Luiz Carlos Busato. Conforme dados da Corsan, o nível do Rio Gravataí, em Alvorada, era de 1,54 m às 10h45, dez centímetros menos que o registrado na tarde de terça-feira.

Já no Vale do Caí, o prefeito de São Sebastião do Caí, Júlio Campani, que acumula a pasta do Meio Ambiente no município, celebra a chegada da chuva. “Essa chuva nos traz dupla esperança. Além de amenizar o calor, repõe nossos mananciais, não só o rio, mas os arroios e reservatórios dos produtores rurais”, afirma. Segundo Campani, mesmo que o Rio Caí esteja abaixo do nível normal, não há risco imediato de desabastecimento. Os dados da Sala de Situação da Sema indicavam o nível do rio em 1,09 m na manhã de hoje.

Medidas e uso racional

O diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), Alexandre Garcia, não vê chance de desabastecimento causado pela estiagem. Garcia ressalta, no entanto, a necessidade do uso de uma quantidade maior de produtos químicos pra o tratamento da água, pois em alguns pontos abaixo do nível normal a água captada é mais turva. “Há pontos no Guaíba com níveis que nunca vimos em 60 anos”, afirma. Além disso, as faltas de energia, causada pela grande demanda elétrica no verão, são preocupação para o bombeamento da água até os lares porto-alegrenses. “Instalamos, por exemplo, um ar-condicionado em uma estação no Partenon. Abrimos a parede e colocamos um exaustor pois o sistema superaquecia com o calor”, explicou.

Em São Leopoldo, o Semae tem contrato com mergulhadores para limpeza dos crivos das motobombas e das estruturas da captação. Durante o período em que o nível de captação está muito baixo, o serviço é acionado mais vezes do que a rotina. Além disso, o diretor-geral Ary Moura pede o uso consciente da água. “É um momento de uso racional, não dá pra desperdiçar água. Apenas 15 minutos de torneira ligada, representa o consumo de 120 litros de água”, reforça.

Chuva irregular não reverte situação

Conforme a Metsul Meteorologia, uma frente fria avança entre esta quarta e quinta-feira, pela região sul do país, colocando fim à onda de calor de duas semanas no Estado. Há risco alto de temporais em algumas cidades, repetindo o que ocorreu nos últimos dias que tiveram tempestades. No entanto, a chuva desta frente fria não vai significar o fim da estiagem, que deve seguir nos meses de fevereiro e março, nem elevar definitivamente o nível dos rios na Região Metropolitana.

“Haverá impacto no nível dos rios, mas é um impacto momentâneo. O vento sul, que vai trazer um refresco, acaba segurando um pouco o escoamento, fazendo que os rios tenham uma elevação com a chuva local, mas se formos olhar na semana que vem, quando a estiagem retorna, eles voltam a cair”, explica a meteorologista Estael Sias. A chuva prevista para os próximos dias será irregular, com cem milímetros em algumas áreas e 20 mm em outras. “Seria necessário um período mais longo com chuvas mais regulares e generalizadas para de fato reverter o nível dos rios que, de fato, estão muito baixos”, analisa.


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