De Santa Maria a Osório a bordo de uma Brasília fabricada há 42 anos

De Santa Maria a Osório a bordo de uma Brasília fabricada há 42 anos

Na viagem de cerca de 400 quilômetros, veículo vira até atração turística para argentinos

Gabriel Guedes

Brasília é herança de família e agora faz história na vida do casal Gabriel Quinhones e Maiara Ximendes

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Um clássico carro brasileiro, repleto de histórias, foi protagonista de mais uma. A bordo de uma Brasília, o engenheiro mecânico Gabriel Quinhones, 23 anos, resolveu ir com a namorada, Maiara Ximendes, 19, de Santa Maria a Osório. O veículo, ano 1977, herdado de pai para filho, percorreu os 400 quilômetros que separam o centro do estado de Atlântida Sul, no Litoral Norte. Praticamente uma jóia, com seus 72 mil quilômetros rodados, o veículo não era atração somente na praia. “Na free way, vários carros da Argentina ficavam nos fotografando. Paramos num posto na rodovia e eles iam tirar fotos”, conta Quinhones. O casal ainda aproveitou para andar mais uns 80 quilômetros e ir até a cidade catarinense de Passo de Torres. “Perrengues na estrada sempre tem. A gente já sabe mais ou menos o que acontece quando dá problema, mas esta aqui ainda vai andar muito. Só nesta viagem vão ser quase mil quilômetros de Brasília”, contabiliza o engenheiro.

A Brasília de cor branca, segundo Quinhones, pertencia ao seu pai, o professor Amilcar Quinhones, 57, e possui vários itens de fábrica, que foram preservados por causa dos 18 anos em que o carro ficou parado na garagem. Única coisa que não pertencia ao veículo, é uma sinalização de táxi, dada de presente por um conhecido. Hoje ele roda com o emplacamento atual dos veículos, mas a bordo do carro ainda há a placa amarela, a primeira utilizada por este modelo Volkswagen. “Tem o manual original e até o chaveiro da concessionária onde foi comprada pelo pai, a Pampeiro, em Santa Maria”, exibia à reportagem do Correio do Povo. No painel, um aparelho Motoradio, também original, ainda possibilitava ao casal quebrar a monotonia da viagem de quase cinco horas e meia para escutar músicas e notícias de alguma emissora.

Os pneus do carro têm banda branca. Já o motor possui dupla carburação original, assegura Quinhones. “Por incrível que pareça, foi tão econômico quanto um carro dos novos, fazendo 12,5 quilômetros por litro na estrada. Eu tinha um Sandero e ele fazia 13”, compara. Questionado sobre fazer uma viagem tão longa com uma Brasília, cujos bancos ainda no design original, não possuem cabeceiras, o engenheiro disse que é uma questão de adaptação. “A gente para nos postos de vez em quando pra dar uma esticada. Mas viajar no verão já é mais desafiador: a gente abre as ventarolas para o vento entrar. O motor esquenta até quase 90 graus. No inverno é melhor, por que dá de aproveitar o sistema de ar quente”, conta.

Considerado quase uma raridade, a Brasília é alvo de ofertas de compra. “Muita gente faz propostas, mas não pretendo vender não”, frisa Quinhones, que tem também uma outra paixão na garagem de casa, em Santa Maria. “Lá está um Lada Niva, 91. Quando ando com ele nas ruas, o pessoal até me chama de comunista, só por que é um carro russo”, brinca.


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