Dunas Altas: onde a temporada de verão segue num ritmo sereno

Dunas Altas: onde a temporada de verão segue num ritmo sereno

Balneário de Palmares do Sul é o ponto mais remoto do Litoral Norte

Gabriel Guedes

O quadrangular Farol Berta, de Dunas Altas, contrasta com as formas onduladas formadas pelos montes de areia

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O tempo passa diferente para o veranista de Dunas Altas. Invés do ritmo frenético de outros balneários do Litoral Norte, onde a movimentação de veículos e pessoas nas ruas não para noite e dia durante a temporada, nesta praia a vida é levada ao ritmo do vento e das ondas do mar. De Torres em direção ao sul, pela Estrada do Mar, passando por Capão da Canoa e Tramandaí, seguindo pela RS 786 por Cidreira e Balneário Pinhal se chega ao Quintão. A rodovia estadual se torna Avenida Esparta. Sai o asfalto e entra o calçamento de pedras irregulares até terminar a estrada. Quem percorre estes 140 km, chega ao ponto mais remoto da orla da região. Cercada por dunas de areia, onde está o Farol Berta, a localidade, pertencente ao município de Palmares do Sul, tem pouco menos de 200 residências e é marcada pelo sossego que só o quase isolamento proporciona.

Se as dunas podem remeter à lembrança de qualquer outro cenário no Litoral Norte, o Farol Berta, uma construção quadrangular com 40 metros de altura, de pintura branca com uma faixa de cor preta, com alcance geográfico de até 16 milhas náuticas (29,6 quilômetros), é o cartão postal de Dunas Altas. Foi construído em 1996 com a meta de auxiliar os navegantes que passam rente à perigosa costa gaúcha. Mas também demarca o início de uma zona inóspita. Dali em direção ao sul, são quase 260 quilômetros de um território muito pouco habitado, de uma longa e deserta praia arenosa que só termina no molhe de São José do Norte, na barra da Lagoa dos Patos.

Na areia da praia não há guarda-vidas, nem quiosques. A melhor infraestrutura que o veranista pode contar ali é o porta-malas do carro ou a caçamba da caminhonete. Mas o pouco movimento é compensado pela sensação de liberdade. Pescadores amadores não precisam se preocupar com banhistas e crianças se divertem na beirinha sem o risco de se perderem dos pais. “Antes a gente ia para tudo que é lado, até que conseguimos uma casa em Rei do Peixe. Mas a gente acaba vindo aqui por causa da calmaria para pescar e para as crianças brincarem em paz”, conta o comerciante Anderson Clei, 30 anos, de Esteio. Tudo tão sossegado, que nas dunas repletas de capim, espécies como o tuco-tuco - animal que lembra a marmota, que vive no hemisfério norte -, e a maria-farinha, um caranguejo de cor de areia, além de uma grande variedade de insetos, sapos, lagartixas, cobras, como a jararaca-das-dunas, e aves, como o maçarico-de-colar, conseguem se procriar e crescer sem qualquer apreensão.

O balneário de Dunas Altas, quando ainda nem tinha este nome, já teve até um dos primeiros hotéis do Litoral Norte, o Max Traunig, que abriu em 1920 e funcionou por 10 anos. O loteamento, onde hoje há apenas um condomínio com algumas casas, foi iniciado em 1988. Um dos compradores mais recentes, o comerciante de Alvorada Carlos Roberto Pinheiro, 69, conta que há 10 anos estava passando um verão no Quintão, quando pegou fez um passeio até a praia de dim-dim - que hoje não existe mais. “Cheguei aqui e me apaixonei. Aí comprei uma das casas”, confessa. Caminhando despreocupado, rodeado por dois netos e uma neta, a diversão dos pequenos é bater bola e brincar na areia, já que o celular só pega, com alguma sorte, sobre alguma duna mais alta. A ligação com o centro de Palmares do Sul, distante cerca de 30 km pela estrada de chão da Granja Vargas, também dificulta o acesso ao local. “O isolamento garante esta paz. Se eu te falasse que falta algo, poderia ter só um mercadinho mesmo”, sugere.


Correio do Povo
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