Projeto no Litoral Norte forma surfistas e cidadãos

Projeto no Litoral Norte forma surfistas e cidadãos

Surf Salva começa a dar frutos, como Lucas Gasperin campeão gaúcho mirim e júnior de 2018 da Liga Rio-Grandense de Surf

Carmelito Bifano

Projeto Surf Salva, organizado por Anderson Helfer (na direita de azul), já formou mais de 300 surfistas e começa a dar frutos

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Crianças e jovens das praias de Cidreira, Pinhal e Magistério estão sendo preparados para se tornarem atletas de um esporte que será incluído nos Jogos Olímpicos a partir de 2020, o surf. Além disso, como o Surf Salva é um projeto social e beneficente, a intenção também é que os participantes do projeto se tornem cidadãos.

Organizada por Anderson Helfer Nunes, surfista que conhece as ondas do Litoral Norte há mais de 15 anos, a iniciativa já atendeu mais de 300 crianças. O trabalho desenvolvido já começou a dar frutos: o atual campeão gaúcho das categorias Júnior e Mirim da Liga Rio-Grandense de Surf, Lucas Gasperin, de 15 anos, que começou a carreira esportiva com os ensinamentos de Andy Naza Boy, como Nunes é conhecido entre as pessoas que acompanham o seu trabalho.

“O objetivo é ensinar o surf, mas, como é um projeto social, o principal foco é tirar a gurizada da rua. Exigimos, assim, a comprovação da presença escolar de todos os participantes”, revela Nunes, que também é o presidente da associação local. O projeto começou há cinco anos com apenas dois professores, duas pranchas e quatro crianças. Com a divulgação da proposta, atualmente em torno de 60 crianças por ano conhecem e praticam o esporte.

O reconhecimento na região foi tão grande que a Prefeitura de Pinhal contratou o projeto e parte dos R$ 1,2 mil mensais recebidos do município são revertidos para melhorar as condições do ensino para os jovens. “Damos uma aula teórica na beira da praia. Ensinamos como subir na prancha e também os cuidados que se deve ter com o mar. Explicamos as marés e os ventos. O surfista tem que saber de tudo isso até para não correr risco de vida com as redes de pescas, por exemplo”, ressaltou Nunes. De acordo com ele, 49 vidas foram perdidas praticando o esporte no Rio Grande do Sul.

Com o auxílio do professor de educação física Felipe Ferreira e do veterano surfista Rudinei Rosa da Costa, a ambição de Nunes é ampliar o projeto, que vive de doações de material usado, em especial, roupas de borracha para as aulas no inverno, além de pranchas. “Queremos fazer um instituto como o do Gabriel Medina (bicampeão mundial de surf) para realizar um trabalho visando à formação e ao desenvolvimento de atletas”, aposta Nunes.

As aulas em Cidreira ocorrem nos sábados, após o meio dia, exclusivamente na baixa temporada. Em Magistério, nas quartas-feiras, e em Pinhal, nas sextas, os ensinamentos são passados gratuitamente durante o verão.


Lucas Gasperin começou no projeto Surf Salva e conquistou o Gaúcho mirim e júnior de 2018 - Foto: Guilherme Almeida

Campeão Gaúcho mirim e júnior de 2018 começou no Surf Salva

Com os primeiros ensinamentos que obteve no projeto Surf Salva, e o esforço próprio, se dividindo entre as aulas, a preparação física e muitas ondas, além do apoio fundamental do pai Márcio, de 46 anos, e da mãe Sandra Freitas, de 38 anos, Lucas Gasperin alcançou o sonho dos milhares de surfistas que treinam no Litoral: alcançar um título no Circuito Gaúcho de Surf. E não foi só um, foram dois, no segundo ano participando de competições.

“Comecei a surfar no projeto com o Andy, vi um campeonato no Pier de Salinas e gostei muito. Infelizmente, não pude competir, pois era iniciante. Não desisti do sonho e comecei a vencer as competições”, lembra o surfista. Além de vencer na categoria que engloba surfistas da sua idade, 15 anos, Gasperin também conquistou a que reúne atletas de até 18 anos, com quase o dobro de pontos para o segundo colocado. Após as vitórias, o sonho é virar profissional e, quem sabe, participar da primeira divisão da World Surf League.

“É preciso se esforçar muito, treinar todo o dia, independente de como está o mar. Ter muita fé que vai alcançar os objetivos e fazer muito funcional, pois o trabalho fora da água também é fundamental”, ressalta Gasperin.

Quando tem um tempo, o jovem, destaque de Salinas, vai até as aulas do projeto Surf Salva para conversar e passar dicas aos iniciantes.


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