"São meu chão seguro", diz aposentado que cuida de 134 cães em sítio em Maquiné

"São meu chão seguro", diz aposentado que cuida de 134 cães em sítio em Maquiné

Paulo Roberto Giglio, de 70 anos, batizou o local de Cãodomínio São Francisco de Assis

Chico Izidro

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“Eu que preciso deles, não são eles que necessitam de mim”, filosofa Paulo Roberto Giglio, um homem de 70 anos que há 35 anos se dedica a cuidar de cães abandonados em um pequeno sítio localizado na RS 407, em Maquiné, no litoral Norte gaúcho. O local foi batizado de Cãodomínio São Francisco de Assis (em homenagem ao padroeiro protetor dos animais). Ele cuida atualmente de 134 cães, 124 no sítio e outros dez em sua casa em Capão da Canoa.

Paulinho da Filler, como é carinhosamente chamado pelos moradores da região por ter trabalhado várias décadas na empresa de alimentos, passa os dias dando atenção aos animais, muitos deles doentes, outros amputados, alguns cegos, velhos e que foram largados à própria sorte nas ruas por antigos donos.

Paulinho conta que recebe uma aposentadoria irrisória, de pouco mais de mil reais, mas mesmo assim consegue dar conta dos cães, com doações de alimentos e medicamentos. Para alimentar todos os bichos, são necessários 100 quilos de ração diárias, obtidas muitas delas através de doações de padarias, de supermercados ou de particulares. “Eu não peço nada, pessoas solidárias me ajudam”, diz ele, que ficou viúvo há quase cinco anos.

Foto: Mauro Schaefer

“Rose Maria era minha companheira há 40 anos, e fiquei sem chão quando ela partiu. Ainda sinto enorme falta dela. Mas aqui com os cães faço minha terapia”, revela. “Estes animais são meu chão seguro”, completa. “Tristeza, depressão, melancolia, nada me pega. Não me preocupo com o meu amanhã, só com o dos bichinhos, pois temo por eles quando me for”, diz. “Mas quero chegar aos três dígitos de idade”, avisa.

Paulinho diz que não se desfaz de nenhum dos animais, por mais que algumas pessoas queiram adotá-los. “Elas podem ser padrinhos de um deles, doando alimentos e remédios, mas tirá-los daqui, de jeito nenhum”, dispara ele, que faz a limpeza do canil, dá banho e tosa os cães, e ainda os leva para castração. “O exército de um homem só”, compara. O cuidador conta que há cerca de uma semana chegou ao sítio e deparou com seis filhotinhos largados ali na frente. “As pessoas simplesmente passam aqui e largam os animais, como se fossem descartes. O que faço? Ora, vou cuidar deles, alimentá-los”, garante.

Os cães de várias raças, desde poodles, pittbulls, rottweillers, boxers, são bernardos, akitas, vira-latas, são incrivelmente educados. Não são violentos, pelo contrário, são extremamente carinhosos e doutrinados a nunca ir na estrada localizada bem em frente ao sítio, onde os carros passam em extrema velocidade. “Eu olho para eles, dou uma ordem e eles obedecem. Eu digo que falo em português e eles respondem em cachorrês”, brinca Paulinho, que deixou a casa do sítio para os seus bichos e apesar da pequena aposentadoria, alugou uma casa em Capão da Canoa para viver e onde, mesmo assim, mantém dez cães. Ele vai todos os dias para o sítio. “Cuidar desses animais é minha missão de vida”, completa.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895