tDCS, uma técnica de estimulação cerebral não-invasiva

tDCS, uma técnica de estimulação cerebral não-invasiva

Ex-delegada da Polícia Civil gaúcha realiza tratamento inédito no RS e em Santa Catarina. Positividade e disciplina levaram a ex-policial a descobrir na catarinense Tubarão um tratamento de vanguarda, essencial à sua recuperação e inédito naquele estado e também no Rio Grande do Sul

Correio do Povo

Fernanda passou por cirurgia, radioterapia e, em janeiro último, findou a quimioterapia. Agora, faz o tratamento e agradece por estar viva e poder brincar e acompanhar o crescimento da filha Maria Luíza, de 6 anos

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Superação diária por meio da fé e uma severa rotina de exercícios fisioterápicos. Realidade enfrentada há quase dois anos pela delegada aposentada da Polícia Civil do Rio Grande do Sul (PCRS), Fernanda Sobroza de Mello, 46 anos. Diagnosticada em outubro de 2017 com um tumor cerebral agressivo, quando comandava o Departamento de Administração da PCRS, Fernanda passou por cirurgia, radioterapia e, em janeiro último, findou a quimioterapia, iniciada um ano antes.

Do doloroso processo de combate à neoplasia veio a aposentadoria precoce, a perda da visão periférica no olho esquerdo e uma paresia parcial – oriunda do edema gerado pela radioterapia, que atingiu sua perna e o braço esquerdos. Fernanda, contudo, é uma otimista. Agradece por estar viva e poder brincar e acompanhar o crescimento da filha Maria Luíza, 6. Positividade e disciplina levaram a ex-policial a descobrir na catarinense Tubarão um tratamento de vanguarda, essencial à sua recuperação e inédito naquele estado e também no Rio Grande do Sul.

Trata-se da Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua, a tDCS, uma técnica de estimulação cerebral não-invasiva e extremamente segura que, aplicada sobre o crânio, pode facilitar ou inibir a ativação cerebral. O tratamento é ministrado na NeuroReab - Clínica de Reabilitação Intensiva e de Estimulação Precoce de Bebês, há três anos atuando no município do sul catarinense. “Percebo a cada sessão a minha evolução física, o que ajuda e muito no emocional. Tenho certeza que voltarei logo a ter a autonomia motora”, exalta Fernanda, que cumpre o segundo protocolo do tratamento, composto de dez sessões.

De acordo com a fisioterapeuta Angélica Soldi – proprietária da NeuroReab junto com o marido, o também fisioterapeuta Fernando Soldi - uma gama variada de pacientes infantis e adultos em reabilitação neurológica pode se beneficiar com a tDCS. A técnica é usada na recuperação motora tanto no movimento de mãos como pernas. “Estamos fazendo treinos só para marcha, com resultados muito bons”, assegura, ressaltando que a clínica também oferta Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, com esses profissionais se associando ao tratamento fisioterápico para protocolos de linguagem e estimulação.

S erviço: 
O quê: Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (tDCS). Técnica de estimulação cerebral não-invasiva e extremamente segura que aplicada sobre o crânio pode facilitar ou inibir a ativação cerebral.

Quem: Direcionado ao público infantil e adulto gaúcho e catarinense com lesões neurológicas e que apresente comprometimentos físicos, da linguagem ou cognitivos.

Onde: NeuroReab – Clínica de Reabilitação Intensiva e de Estimulação Precoce de Bebês (Rua Tubalcain Faraco, 150 – Sala 804/Edifício Seven Business Center, Centro de Tubarão/SC). Fone (48) 3053-1338

Saiba Mais 

O que é a tDCS

A Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (tDCS) tem o propósito de aumentar ou reduzir a atividade cerebral de pacientes em reabilitação fisioterápica neurológica. Consiste na aplicação de uma corrente de baixa intensidade, de forma não invasiva e segura, em áreas cerebrais que respondem, por exemplo, pelo comando de mãos, pernas e braços. Atualmente, na fisioterapia convencional, é estimulada a parte motora do paciente para que com base na repetição o cérebro venha a aprender o padrão de movimento e se corrija. A tDCS facilita a ativação neuronal permitindo um aprendizado mais rápido e eficaz.

Quem pode receber o tratamento

De acordo com a fisioterapeuta Angélica Soldi – proprietária da NeuroReab junto com o marido, o também fisioterapeuta Fernando Soldi - uma gama variada de pacientes infantis e adultos em reabilitação neurológica pode se beneficiar com a tDCS. Na NeuroReab, especializada em reabilitação neurológica, a técnica é usada na recuperação motora tanto no movimento de mãos como pernas. “Estamos fazendo treinos só para marcha, com resultados muito bons”, assegura ela, ressaltando que a clínica também oferta Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, com esses profissionais se associando ao tratamento fisioterápico para protocolos de linguagem e estimulação cognitiva em clientes com déficit de atenção e dificuldades de aprendizado, numa ação multidisciplinar.

Resultados

Uma das grandes expectativas do paciente, bem como dos familiares e profissionais médicos e de fisioterapia, é quanto ao tempo para que os primeiros resultados da tDCS comecem a aparecer a partir do protocolo inicial do tratamento. “No primeiro protocolo você já vê resultados. Se não houver resultado é porque o cérebro não está respondendo àquele estímulo, o que não compensa então insistir naquela área”, pondera Angélica Soldi. Nesse sentido, um estudo de Tractografia - que indica onde estão os feixes nervosos que levam e trazem a informação dentro do cérebro - é sugerido aos pacientes. A Tractografia permite ao fisioterapeuta identificar quais vias neurais estão preservadas ou não, facilitando a escolha da melhor estratégia de intervenção.

O diferencial dos profissionais

A partir do mapeamento dos pontos do eletroencefalograma o grande diferencial da tDCS é que não basta ao profissional de Fisioterapia fazer a transcraniana. É preciso um raciocínio clínico apurado e um conhecimento específico do cérebro, premissas que envolvem a formação acadêmica e a rotina diária de trabalho do profissional. “O curso da tDCS é feito com base no princípio de que o fisioterapeuta neurofuncional já sabe isso, o que cada área do cérebro faz. O meu cerebelo, por exemplo, é controle de movimento, já o meu córtex pré-frontal é área motora. O ponto CZ do eletroencefalograma é membro inferior, o C3 é braço, o F3 é cognição. Há vários pontos na cabeça, cada um correspondendo a uma determinada função. Precisa então de um conhecimento profundo do que faz com cada área do cérebro para, olhando o exame do paciente, saber onde está a lesão, para bater clinicamente com o que essa pessoa apresenta. E aí você vai estimular aquela área”, explica Angélica Soldi.

A segurança do tratamento

No Brasil o tratamento de tDCS é relativamente novo, tendo sido introduzido a menos dez anos. Contudo, mais de duas décadas de pesquisas, testes e aprimoramentos na Europa e Estados Unidos garantem a segurança do procedimento, comprovado por pesquisas de meta-análise, um estudo científico que analisa todos os artigos produzidos sobre o tema e avalia a aplicabilidade e eficácia do tratamento. No País, o tDCS pode ser ministrado somente por profissionais de Fisioterapia ou Medicina, de acordo com os ditames dos seus respectivos conselhos federais.

O equipamento

Quanto à amperagem do equipamento, Angélica Soldi tranquiliza. “A amperagem é muito baixa, o que explica a documentação e liberação tão severa para uso do equipamento no Brasil, onde precisa de aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa”, enfatiza ela, salientando que o problema não é um aparelho de amperagem alta, mas de amperagem tão baixa e que não traga dano algum ao cérebro. “No tratamento adulto se trabalha com um máximo de 2 mA (miliAmperes) e de 1 mA na criança. Então é muito pouco”, garante. E como ter a certeza de que está chegando ao cérebro a amperagem correta? Na prática, só há dois aparelhos autorizados no Brasil. Um fabricado nos Estados Unidos e outro na Alemanha, que é onde a NeuroReab foi adquirir o seu. “O nosso é da NeuroConn, o melhor. É um equipamento que nos dá em números quanto está chegando e quanto está perdendo de impedância, que é a dificuldade da corrente elétrica estar chegando como, por exemplo, por alguma questão de cabelo. No equipamento americano eu só sei se a corrente está chegando ou não. No aparelho alemão eu sei quanto está chegando e quanto está se perdendo no meio do caminho”, ilustra Angélica, destacando que entre a aquisição, importação, regularização e treinamento para uso do aparelho e do tDCS foram percorridos seis meses.

O ganho do tratamento na NeuroReab

O tratamento de tDCS pode ser feito em até no máximo seis módulos anuais, de dez sessões cada. Para Angélica Soldi, o grande ganho em aplicar o método em Tubarão está no fato de que a NeuroReab oferece o procedimento e também todo o acompanhamento fisioterápico especializado ao paciente. “Como o cérebro está propício a um aprendizado mais rápido e fácil isso vai tendo um efeito imediato e conseguimos ver, se ele é paciente nosso, quando o cérebro está normalizando. O que nos permite saber quando é a hora de dar continuidade ao tratamento”, ressalta.


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