COLAPSO

COLAPSO

Em 22 de março de 2020, já isolado em Paraíso, onde ficaria por quase dois anos por causa da pandemia, escrevi uma coluna que levou como título Colapso

Hiltor Mombach

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Em 22 de março de 2020, já isolado em Paraíso, onde ficaria por quase dois anos por causa da pandemia, escrevi uma coluna que levou como título Colapso. Hoje recupero o artigo quando estou pensando seriamente em retorno para Paraíso diante da tragédia que se abete sobre o Rio Grande do Sul.
Antes de recuperar o artigo falo sobre um paradoxo. Sofro de Síndrome do Pânico e um dos gatilhos e ficar sozinho.
Em Paraíso cheguei a ficar duas semanas sozinho, isolado, sendo que por vários dias não vi uma viva alma. Não tive uma crise de pânico. Sequer precisei tomar remédio.
Do alto dos meus 70 anos vejo que meu filho menor, Lucas, de 18, já viveu uma pandemia e a maior tragédia ambiental já narrada no país. O cenário apocalíptico previsto por cientistas para o futuro motivado pela fora como tratamos a natureza foi antecipado. O futuro é agora. Segue a coluna.
“A pandemia do coronavírus me faz lembrar do livro "O Fim do Mundo", do historiador e jornalista norte-americano Otto Friedrich (1929-1995). Friedrich narra como a humanidade encarou momentos apocalípticos como o saque de Roma, a Inquisição, a peste negra, o terremoto de Lisboa, a Revolução Russa e Auschwitz, as perturbações, o histerismo que fez muitos acreditarem que o mundo estava acabando.
"O Fim do Mundo" avalia o impacto tanto da expectativa dos homens em relação a diversos momentos trágicos, entre eles desastres naturais.
Em "Colapso", livro de Jared Diamond, autor de Armas, Germes e Aço, que lhe rendeu um Prêmio Pulitzer, há uma narrativa diferente, de um mundo já globalizado.
Jared escreve: "A globalização torna impossível às sociedades modernas entrarem em colapso isoladamente, como a Ilha da Páscoa ou a Groenlândia Nórdica do passado.
Hoje, qualquer sociedade em crise, não importa quão remota _ pensem na Somália ou no Afeganistão como exemplos_ pode causar problemas para a sociedade prósperas de outros continentes, e também estão sujeitas à sua influência (seja para ajudá-la ou para desestabilizá-la). Pela primeira vez na história, enfrentamos o risco de um colapso global."
No livro "Homo Deus", Yuval Noah Harari relata que "assim, mesmo sem a certeza de que algum surto de um novo Ebola ou uma linhagem desconhecida de gripe não possa assolar o mundo e matar milhões, não vamos considerar que se trata de uma calamidade natural inevitável. Ao contrário, vejamos nisso uma indesculpável falha humana e peçamos as cabeças dos responsáveis.
No fim do verão de 2014, durante algumas semanas terríveis, pareceu que o Ebola estava levando a melhor sobre as autoridades encarregadas da saúde global. Foi quando criaram apressadamente comitês de investigação. Um relatório inicial publicado em 18 de outubro de 2014 criticava a OMS por ter reagido de maneira insatisfatória à eclosão do vírus; a culpa pela epidemia recaiu sobre a corrupção e a ineficiência do ramo africano dessa agência de saúde. Mais críticas foram dirigidas à comunidade internacional como um todo por não ter reagido com rapidez e energia suficientes.
Essas críticas partem da premissa de que a humanidade dispõe do conhecimento e dos instrumentos de prevenção; se mesmo assim uma epidemia sai do controle, isso se deve mais à incompetência humana do que à ira divina".
Lendo Yuval Noah Harari, lembro que China retardou ações que poderiam conter vírus para fugir de embaraços políticos. O governo tratou de constranger quem tentava alertar sobre o possível surto, transformado depois em pandemia.
E que entendidos no assunto apontaram a demora do governo da Itália em restringir voos do norte para outras partes do país no início da epidemia como um dos fatores que levaram ao caos total.
A frase de Jared Diamond é definitiva: “Pela primeira vez na história, enfrentamos o risco de um colapso global."


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