Ataque final ou trégua

Ataque final ou trégua

Um ataque a Rafah nas atuais circunstâncias poderia implicar uma vitória militar, porém uma derrota política para Israel

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A situação na Faixa de Gaza está entre um avanço maciço de Israel contra Rafah, onde estariam concentrados um milhão e meio de civis palestinos ou com a observação de uma trégua. Esta última hipótese se daria com a aceitação pelo Hamas de uma proposta neste sentido feita pelo Egito e pelo Catar. Se for aceita a proposta por Israel, seria evitada a grande ofensiva que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu estava pretendendo realizar, contra o que ele considera o último refúgio do Hamas.

A proposta surge logo após um ataque do Hamas a uma guarnição do exército israelense, em Kerem Shalom, na qual teria matado quatro soldados israelenses e ferido outros dez. O ataque eleva para 267 o número de soldados israelenses mortos desde o início da operação em Gaza, que já matou mais de 34 mil palestinos, segundo o grupo terrorista.

INVASÃO

Possivelmente, em decorrência deste ataque que Israel anunciou que estava preparando a incursão terrestre a Rafah. Sendo que os ataques aéreos àquela cidade estão acontecendo, com mortes de civis palestinos, segundo denúncias do Hamas. A invasão terrestre vem sendo cogitada há bastante tempo pelo governo israelense, dentro de sua obsessão em acabar com o Hamas. Já disse e repito que Israel pode matar os atuais integrantes do grupo terrorista, mas não acaba com a ideia do grupo enquanto não for solucionado o problema do Estado da Palestina. Morrem os atuais integrantes, mas surgem outros. Esta tem sido a história.

Um ataque a Rafah nas atuais circunstâncias poderia implicar uma vitória militar, porém uma derrota política para Israel. Afinal, as perdas políticas de Israel estão advindo do elevado número de palestinos mortos em Gaza. É este fator que está gerando os protestos pelo mundo afora contra Israel. Exemplo marcante é o que está acontecendo nas universidades norte-americanas, movimento que já se estende por universidades europeias.

NEGOCIAÇÕES

Catar, Egito e Jordânia têm se aprofundado em negociações com vistas a se alcançar, senão o fim das hostilidades, pelo menos uma trégua. Além dos aspectos humanitários que estão implícitos nas negociações, há outros interesses desses países mediadores. O Catar, que abriga as principais lideranças do Hamas, não quer ver em seu território uma ação do Mossad, o serviço secreto israelense, de eliminação de algumas dessas cabeças do grupo palestino. Já o Egito e a Jordânia não querem ver uma fuga em massa de palestinos para seu território. Especialmente o Egito, que luta para sufocar a Irmandade Muçulmana, que tem grandes vínculos com o Hamas.

Não se pode esquecer, no entanto, que qualquer negociação para ser aceita por Israel agora deve implicar a libertação de reféns. Este é um dos aspectos pelos quais Netanyahu é mais cobrado em Israel. Os protestos são quase que diários contra ele. A propósito, é muito provável que seu governo caia logo que terminar a guerra.

PROPOSTA

O presidente norte-americano Joe Biden, que tem sido um crítico de Netanyahu, sem deixar de dar respaldo para Israel, disse que o premiê israelense tem sido muito benevolente nas negociações com vistas a uma trégua. E, de fato, em troca de uma trégua com a libertação de pouco mais de 30 dos reféns mantidos pelo Hamas, Netanyahu aceitou libertar mais de 100 palestinos que estão presos em Israel.

Porém, para chegar a um acordo, a facção terrorista exige que a guerra termine em troca da libertação de reféns. O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu já se pronunciou dizendo que “não pode aceitar” as exigências. Ele não quer se retirar de Gaza sem cumprir a etapa final de sua missão, que é atacar o último reduto do Hamas. E é assim, entre negociações inconclusas e sequência de enfrentamentos bélicos que a guerra de Gaza completa nesta terça-feira sete meses de existência.


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