Hamas decide

Hamas decide

Negociações se baseiam em quatro pontos: evitar a invasão de Rafah, libertar reféns, estabelecer cessar-fogo e facilitar a ajuda a Gaza

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Está nas mãos do Hamas a possibilidade de evitar que Israel ataque a cidade de Rafah, onde concentram-se mais de um milhão e meio de palestinos. Isto de acordo com o que revelou para a imprensa o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, que está realizando sua sétima viagem ao Oriente Médio desde que eclodiu o confronto Hamas-Israel a 7 de outubro. O que tanto Blinken como o chanceler britânico David Cameron classificaram como “uma generosa proposta de Israel” contempla um cessar-fogo com a libertação de, pelo menos, 40 dos cerca de 130 reféns israelenses em mãos do Hamas e a libertação de um número indefinido de palestinos, que estão presos em Israel.

Esta proposta foi extraída depois de uma intensa pressão do presidente dos EUA, Joe Biden, sobre o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para que não realize a tão anunciada invasão por terra de Rafah. Porém, enquanto a decisão do Hamas segue pendente, Israel realizou um ataque aéreo sobre aquela cidade do sul de Gaza, matando, segundo as informações, 30 palestinos. Ou seja, é mais pressão para que o Hamas tome logo uma decisão. Até porque, segundo noticia a agência Reuters, Israel oferece ainda, em troca de uma trégua de 40 dias, a retirada parcial de suas tropas, com a liberação da circulação entre o norte e o sul de Gaza, bem como a entrada de ajuda humanitária naquela área. Vale destacar que esta é a primeira vez que Israel considera suspender o ataque terrestre a Rafah em troca da libertação de reféns.

PROPOSTA

O que se torna cada vez mais claro é que o término deste conflito, assim como o impedimento da realização de novos, como tem sido dito reiteradas vezes, passa pela criação do Estado da Palestina. O próprio secretário Blinken disse que: “Para avançar com a normalização, duas coisas serão necessárias: calma em Gaza e um caminho crível para um Estado palestino”. Em meio a essas negociações e manifestações, fica uma curiosidade sobre uma proposta que, segundo o jornal espanhol El País, o representante do Hamas nas negociações, Jalid Al-Haya, divulgou em entrevista na sexta-feira, 26, em Istambul. Esta proposta consistiria numa trégua de cinco anos em troca da aceitação de dois Estados. Isto, se confirmado, significa uma mudança radical de posição do Hamas, porque, neste caso, estaria aceitando a existência do Estado de Israel, o que contraria o seu estatuto, que teria que mudar.

PRESSÃO

Estes mais recentes episódios decorrem de uma mobilização muito grande de representantes das partes diretamente envolvidas na guerra, assim como de países como Egito, Jordânia e Catar, que têm sido impulsionadores das negociações. Porém, os principais atores são o presidente Biden e o premiê Netanyahu. Biden tem sido incisivo com Netanyahu na sua demonstração de apoio a Israel. Embora sendo defensor da teoria dos dois estados, chegou a vetar no Conselho de Segurança da ONU a votação que criava o Estado da Palestina no âmbito daquele organismo. Em atenção a Tel Aviv, Biden sustentou que a solução passa por uma negociação entre as duas partes.

Já Netanyahu, cujo governo está a perigo, principalmente pela questão dos reféns, colocou este tema como prioridade. Daí a possibilidade que surge de se liberar pelo menos um grupo de reféns. Afinal, não passa dia sem ter uma manifestação em Israel cobrando do primeiro-ministro a libertação dos reféns. As palavras de Benny Gantz, ministro integrante do Gabinete de Guerra, refletem a realidade: “A libertação dos reféns é urgente e muito mais importante do que a tomada de Rafah”.

PONTOS

Assim é que estas negociações se baseiam em quatro pontos: evitar a invasão por terra de Rafah, libertar os reféns, pelo menos em parte, estabelecer um cessar-fogo e facilitar a entrada maciça de ajuda a Gaza, inclusive pela parte norte. Na extensão ainda pode vir a libertação de palestinos que estão presos em Israel. Enfim, estas últimas horas podem ser decisivas. Ou se tem um acordo de trégua, que pode evoluir para a retomada dos Acordos de Abrahão, pelos quais Israel travou a paz com vários países árabes. Ou se tem a retomada e um incremento nessa confrontação absurda que travam Israel e Hamas.


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