O cinema porto-alegrense em documentário

O cinema porto-alegrense em documentário

Está em cartaz o filme ‘Um Certo Cinema Gaúcho de Porto Alegre’ em sala da Cinemateca Paulo Amorim da CCMQ

Adriana Androvandi

Cena do documentário 'Um Certo Cinema Gaúcho de Porto Alegre', com Enéas de Souza (de frente) sendo entrevistado

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Está em cartaz o documentário "Um Certo Cinema Gaúcho de Porto Alegre", dirigido por Boca Migotto. Produzido durante a pesquisa de doutorado do autor, sob a supervisão da professora Miriam Rossini (Ufrgs), o filme aborda aproximadamente quatro décadas do cinema gaúcho através de depoimentos de pessoas que viveram essa história, intercaladas com cenas de filmes. Como é de conhecimento público, em um trabalho acadêmico é preciso fazer um recorte sobre determinado tema, visto que se trata de uma pesquisa com prazo para início e término.

O autor colocou seu foco na produtora Clube Silêncio e os filmes produzidos a partir dessa experiência nos anos 2000. A produtora tinha como sócios Gustavo Spolidoro, que dirigiu “Ainda Orangotangos” e “Morro do Céu”; Fabiano de Souza, que conduziu “A Última Estrada da Praia”, e Gilson Vargas, diretor de “Dromedário no Asfalto”.

Em um bate-papo realizado na terça-feira passada após sessão de pré-estreia na Cinemateca Paulo Amorim da CCMQ (Rua dos Andradas, 736), onde o filme está em cartaz, o autor revelou que sua ideia inicial era estudar o filme “Ainda Orangotangos”, inspirado em texto de Paulo Scott, por ser um longa rodado em um plano-sequência em Porto Alegre. Aos poucos, ampliou o foco. Os sócios da Clube Silêncio foram entrevistados. A diretora Cristiane Oliveira (de “A Mulher do Pai” e “A Primeira Morte de Joana”), que trabalhou com o grupo, também dá uma breve declaração.

Quando se pensava que a Clube Silêncio ia produzir ainda mais e “decolar”, os sócios resolveram encerrar a produtora e cada um seguiu seu caminho. O pesquisador percebeu que na temática dos filmes ficou evidente um desejo de sair da cidade, o deslocamento de tramas da Capital para o Litoral ou a Serra.

Para contextualizar esse grupo, o cineasta entrevistou também a geração anterior que se dedicou a um cinema urbano, com a da Casa de Cinema de Porto Alegre, além de pesquisadores, professores, profissionais e jornalistas. Veteranos como o crítico e filósofo Enéas de Souza também deram seu depoimento.

O filme não teve nenhum patrocínio e foi realizado de forma independente. As entrevistas foram realizadas no Bar Ossip (Rua da República, 677). Por isso, o espectador acompanha o vai e vem dos funcionários do bar entre as conversas. “Foi mais prático convidar os entrevistados para um espaço do que termos de nos deslocar pela cidade”, conta Migotto sobre os bastidores. O som foi captado pelo reconhecido profissional Juan Quintáns.

Migotto sabe e admite que muitos nomes ficaram de fora do longa-metragem. O primeiro corte do filme tinha cerca de 4 horas e para ser exibido no cinema teve de sofrer nova edição para ficar próximo de 2 horas. E algumas imagens que o diretor gostaria de ter colocado no filme não foram liberadas por uma emissora que detém os direitos sobre películas antigas e históricas.

Mesmo com limitações de recursos, o documentário é uma preciosidade por registrar a memória viva de profissionais que marcaram e ainda marcam a história do cinema de Porto Alegre. É um trabalho que aposta na história oral, o que incentivou Migotto posteriormente a começar a cursar História.

Trata-se de um filme mais técnico e formal, talvez por ter sua origem em um trabalho acadêmico, do que outros filmes do cineasta, como o emocionante e nostálgico "Filme sobre um Bom Fim" (2015). Mas este também resgata, através de imagens e depoimentos, uma Porto Alegre do passado registrada em experimentos de profissionais que se arriscaram na sétima arte.


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