Sessões musicadas unem cinema e música ao vivo no Fantaspoa

Sessões musicadas unem cinema e música ao vivo no Fantaspoa

Clássicos do cinema mudo ganham uma nova roupagem em apresentações ao vivo, junto com o filme

Carlos Correa

Carlos Ferreira e Rita Zart executam a trilha sonora ao vivo do filme "Os Nibelungos - A Morte de Siegfried"

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Quem frequenta as salas de cinema sabe muito bem como é incômodo todo e qualquer barulho desnecessário à sessão, seja um celular tocando fora de hora, seja alguém conversando alto sobre o filme. Imagine então o som de uma guitarra em meio à projeção. A menos, claro, que a intenção seja essa. E nesse caso, é. Ao longo da programação do Fantaspoa, que começou no dia 10 e vai até 28 de abril na Capital, entre as atrações estão as sessões musicadas, onde clássicos do cinema mudo ganham uma trilha sonora ao vivo. A última delas acontece nesta quarta-feira à noite no Instituto Ling, com a exibição de "Os Nibelungos - A Vingança de Kriemhild", de 1924, do diretor Fritz Lang. O filme será musicado pelos argentinos Mariano Poc e Germán Suane.

Nessa terça-feira, o Correio do Povo acompanhou uma das sessões no Instituto Ling, com apresentação ao vivo do guitarrista Carlos Ferreira e da cantora Rita Zart, ambos com histórico em composição de trilha sonora. O filme em questão foi "Os Nibelungos - A Morte de Siegfried", com 2h25min de duração, o que por si só já era um desafio para a dupla, uma vez que havia espaço para improvisos o tempo todo. Curiosamente, a apresentação traz em si um paradoxo, já que apesar da presença dos músicos, em grande parte do tempo era como se fossem invisíveis. "O foco é sempre o filme. Estamos ali, mas sabemos que nosso papel é secundário", observa Carlos.

"O foco é sempre o filme. Estamos ali, mas sabemos que nosso papel é secundário”, afirma o guitarrista Carlos Ferreira

No palco, um monitor colocado em frente aos dois possibilita que ambos acompanhem o filme. Carlos alterna entre a guitarra e controladores, enquanto Rita, além dos controladores, também manipula efeitos de voz. Boa parte da música foi criada antes e toda essa parte programada fica ali à disposição para ser utilizada como e quando ambos bem entenderem, assim como samples e efeitos de som. Ao contrário de uma apresentação musical, não há quase qualquer interação com o público, salvo as palmas no começo e no final. Em parte porque a atenção dos músicos não pode ser desviada do que está sendo projetado. Em parte, porque o próprio público está prestando a atenção mais na história do que qualquer coisa.

Apresentação traz parte da trilha já composta, mas abre espaço para improvisações | Foto: Fabiano do Amaral

Ainda que a produção tenha sido lançada com uma trilha sonora própria em 1924, a ideia para a sessão musicada foi reinventar tudo. Nesse aspecto ajudou o fato de que tanto Carlos como Rita têm reservas com a música original, onde predominam arranjos orquestrados, que destoariam da história, envolvendo traições e mortes. Para começar do zero era preciso, antes de mais nada, assistir ao filme, coisa que nenhum deles havia feito até pouco tempo. Em compensação, foram incontáveis vezes vendo e revendo a obra de Lang na busca de uma novo tema. "A gente já conhece bastante o trabalho um do outro, ele tem uma estética minimalista como eu", revela Rita.

Ajudou também o fato de "Os Nibelungos" ser dividido em capítulos, no caso, cantos. Assim, a dupla dividiu as composições, mantendo uma unidade em torno do clima buscado. "Para cada canto, planejamos determinados timbres, complementando com algumas bases prontas", explica Carlos. O resultado é um filme com uma nova roupagem, bastante minimalista e intimista, mas que cresce em momentos chave da trama. Dado os elementos eletrônicos, é algo que com certeza nunca passou pela cabeça do diretor austríaco há 100 anos - e nem teria como. E que provavelmente também será bastante diferente da sessão musicada programada para esta quarta-feira à noite.

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