"Morcego Negro"

"Morcego Negro" é um documentário dirigido por Chaim Litewski e Cleisson Vidal, que aborda as relações de poder no Brasil nos anos 1990 a partir da biografia Paulo Cesar Cavalcante Farias, mais conhecido como PC, baseado no livro "Morcegos Negros", de Lucas Figueiredo. O trabalho levou mais de dez anos para ser produzido, com pesquisas no nosso país e no exterior. Os cineastas entrevistaram dezenas de pessoas que conheceram e conviveram com o tesoureiro de campanha do ex-presidente da República Fernando Collor de Mello - o primeiro presidente civil eleito por voto popular depois de 21 anos, que assumiu em 1990, sendo afastado em1992.
A produção, inclusive, encontrou documentos governamentais inéditos, que ligaram diretamente forte esquema de corrupção de PC com o ex-presidente, que culminou com o impeachment de Collor em 1992. Os acontecimentos abalaram muito seriamente a recém-restaurada democracia brasileira, iniciada de forma capenga em 1985, após 21 anos de Ditadura Militar.
PC se tornou a eminência parda do governo de Collor. Ele foi o lobista mais poderoso do país à época, recebendo dinheiro de empresários, políticos e formando um grande caixa 2, se tornando multimilionário. Os diretores Chaim Litewski e Cleisson Vidal retratam no documentário a vida familiar, os amigos, as festas e os traços de personalidade de um homem visto por quem o conheceu como uma figura simpática e divertida, apesar do vasto bigode, que deixava transparecer um homem sisudo.
Litewski e Vidal conversaram, entre outros, com Fernando Collor de Mello, Thereza Collor, Fernando Henrique Cardoso, Renan Calheiros, além da filha de PC Farias. Os materiais de arquivo também são vastos, incluindo um longo depoimento à CPI (quando PC Farias se apresenta e descreve sua trajetória pessoal) e a novela censurada "O Marajá", da extinta TV Manchete, que fazia piada com a imagem de Collor, que apareceu nacionalmente como o governador de Alagoas "Caçador de Marajás".
PC Farias morreria misteriosamente assassinado em 1996. Investigações divulgaram que a namorada Suzana Marcolino matou PC Farias e suicidou-se em seguida. O caso é considerado oficialmente apenas como um crime passional, mas para o médico-legista alagoano George Sanguinetti e o perito criminal Ricardo Molina de Figueiredo, o casal foi assassinado.
O filme é nominado em referência ao avião particular de PC Farias, batizado como "Morcego Negro". O documentário, enfim, aborda um período importantíssimo da recente história do Brasil, mostrando aqueles anos de transição do governo dos militares para o governo civil, sendo um mergulho profundo na política contemporânea brasileira. E por isso fundamental.
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