A dieta ‘low-carb’ e sua relação com a saúde

A dieta ‘low-carb’ e sua relação com a saúde

Trata-se de uma forma de se alimentar que privilegia alimentos minimamente processados, tais como peixes, aves, carnes, saladas e legumes, enquanto se evita o consumo de alimentos ricos em açúcar e em amido.

Paula Maia

José Carlos Souto

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O médico gaúcho José Carlos Souto promove abordagem da dieta low-carb e enfatiza que essa é uma intervenção altamente eficaz para combater problemas de saúde prevalentes, como obesidade, síndrome metabólica e diabetes. Seu livro, “Uma Dieta Além da Moda - Uma Abordagem Científica para a Perda de Peso e a Manutenção da Saúde”, defende a eficácia dessa forma de alimentação. Ele destaca que seus estudos sobre a low-carb tiveram início em 2011, após perder 15 quilos. Desde então, Souto se dedica a disseminar informações sobre o tema, escrevendo no blog Ciência Low-Carb e publicando artigos que traduzem estudos científicos de forma acessível ao público em geral.

O que é dieta low-carb?

Low-carb significa, literalmente, baixo carboidrato. Poderia ser vista como uma dieta de baixo açúcar e baixa farinha. Privilegia alimentos minimamente processados, tais como peixes, aves, carnes, saladas e legumes, enquanto se evita o consumo de alimentos ricos em açúcar e em amido. Por suas características, favorece o emagrecimento sem fome e a melhora de condições metabólicas como pré-diabetes, diabetes, gordura no fígado e pressão alta.

Por que o senhor considera a dieta low-carb como uma estratégia nutricional poderosa?

Há mais de 100 de estudos científicos em humanos nos quais a low-carb é comparada com outras dietas para emagrecimento, diabetes ou outros problemas metabólicos. Na totalidade destes estudos, low-carb é superior ou, no mínimo, tão boa quanto as dietas com as quais está sendo comparada. Com o grande diferencial de que, em low-carb, não há necessidade de restrições voluntárias de calorias: a saciedade produzida pela dieta é suficiente para produzir o resultado. E não há como adotar a fome como estilo de vida.

Na primeira parte do livro o senhor trata sobre a teoria carboidrato-insulina, quais são as novas teorias sobre o tema?

A teoria carboidrato-insulina foi postulada para ajudar a explicar a eficácia presente da estratégia low-carb em produzir emagrecimento. Segundo essa teoria, diferentes alimentos podem ter a mesma quantidade de calorias, mas terão diferentes efeitos hormonais, sobretudo nos níveis de insulina – que é o hormônio necessário para controlar a subida da glicose no sangue provocada pela digestão dos açúcares e amidos. Acontece que a insulina estimula o armazenamento de gordura. Assim, em uma dieta low-carb, os níveis mais baixos de insulina favorecem a utilização da gordura corporal, gerando saciedade e levando ao emagrecimento. Como o livro explica, há estudos que dão suporte a essa teoria e outros que a questionam. A verdade é que essa teoria é incompleta e que existem outras que ajudam a explicar por que uma dieta de baixo carboidrato é tão eficaz. Uma das mais importantes diz respeito ao papel da proteína na dieta como freio do apetite. Igualmente importante é o fato de que uma dieta low-carb é pobre em alimentos ultraprocessados.

O que é a síndrome metabólica?

É um conjunto de alterações que aumenta muito o risco de diabetes tipo 2 e doença cardiovascular, além de ser fator de risco para câncer e Alzheimer. Consiste em pelo menos três dos seguintes critérios: glicose acima de 100, triglicerídeos acima de 150, HDL (colesterol bom) baixo, aumento da circunferência abdominal e pressão alta. Gordura no fígado também faz parte. Muitas pessoas têm três ou mais destes problemas, mas desconhecem o fato de que estão todas ligadas pelo excesso de gordura visceral e de insulina.

A low-carb pode ajudar na reversão do diabetes e da síndrome metabólica?

Tanto o diabetes tipo 2 como a síndrome metabólica são produto de uma condição chamada resistência à insulina, na qual o corpo passa a responder menos a esse hormônio. Consequentemente, o pâncreas produz excesso de insulina, na tentativa de compensar. Acontece que a causa da resistência à insulina é o excesso de gordura visceral e o principal estímulo à produção de insulina são os carboidratos. Assim, uma dieta low-carb atua nas duas pontas: melhorando a resistência à insulina devido ao emagrecimento e reduzindo diretamente a secreção desse hormônio.

Quais mitos sobre a low-carb o senhor destaca?

A terceira parte do livro é dedicada aos mitos. Entre eles, o de que a low-carb seja perigosa para os rins e o de que o que o peso que se perde em low-carb é apenas de água e músculos. Além do fato de que os estudos científicos não mostram prejuízos à função renal em low-carb, o fato é que os principais fatores de risco para insuficiência renal crônica, diabetes e pressão alta, comprovadamente, melhoram com o emprego dessa estratégia alimentar. Há muitos estudos, todos devidamente citados no livro, que demonstram que não se perde mais massa magra em low-carb do que em outras dietas de emagrecimento e que é possível ganhar músculos em low-carb, desde que fazendo treino de força.

Quais os possíveis riscos cardiovasculares acarretados pela low-carb?

Este assunto é abordado em profundidade no livro. Os principais fatores de risco cardiovascular são diabetes, pré-diabetes, pressão alta, obesidade, resistência à insulina e síndrome metabólica, todas condições que melhoram com a restrição de carboidratos. Os níveis de colesterol LDL também são fator de risco importante, embora seu impacto seja numericamente inferior aos citados anteriormente. Em geral, pacientes com as condições acima que adotam dieta low-carb têm melhora do seu perfil lipídico. Naqueles em que o LDL aumenta significativamente, a dieta pode ser modificada ou, se necessário, empregam-se medicação, para que se possa manter os benefícios do estilo de vida de controle do diabetes, síndrome metabólica e emagrecimento.


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