Palhaçaria que vem da Argentina

Palhaçaria que vem da Argentina

“Eu, que trabalho com palhaçaria, gosto dessa universalidade do riso. Que muitas pessoas, de diferentes lugares, riem das mesmas coisas. Eu gosto de encontrar esse lugar comum, porque aí está uma forma de comunicação que é igual para todos.”

Vitória Miranda

O ator Sebastian Goboy

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Um dos destaques da programação do 9º Sesc Circo, o maior festival circense do Rio Grande do Sul, que acontece até este domingo, o argentino Sebastian Godoy iniciou sua formação como ator e palhaço enquanto cursava bacharelado em Biologia na Universidade Nacional de Mar del Plata em 2003. Depois da formação, deu sequência à formação em teatro, dança, palhaço, máscaras e circo na Capital Federal (Buenos Aires). Em 2009, ele foi selecionado pelo Cirque du Soleil com o número "Sodas Danzantes" para fazer parte de projetos futuros. Em 2019, a passagem para Montreal foi convocada pelo Programa de Formação da companhia para participar de um treinamento de performance com patinação. Ele também foi convidado a participar, como palhaço, do espetáculo "Crystal". Com seu trabalho solo "Yo-Yo - Subir y Bajar Hasta Encontrarse", ele já participou de festivais no mundo todo. No teatro, trabalhou em várias peças, algumas de autoria própria, que criou ao lado de amigos na companhia "Los Bla Bla". Atualmente, está interpretando “O homem que perdeu a sombra” no Teatro Nacional de Cervantes. Godoy também se dedica a aulas de palhaçaria para crianças e adultos em Buenos Aires e no interior da Argentina.

Quantos anos você tem e desde que idade é ator?

Eu tenho 46 anos de idade. Agora, em maio, você completou 47 anos e eu comecei minha formação como ator e palhaço quando tinha 22 anos.

Como foi a descoberta das artes cênicas?

A descoberta foi muito, muito legal, porque acho que as pessoas viram um talento em mim antes que eu mesmo tenha visto. Eu estudei Biologia Marinha na Universidade Nacional de Mar del Plata e foram colegas meus da universidade que fizeram uma vaquinha para mim dar de presente de aniversário uma oficina de palhaçaria. Eu sempre amei assistir aos palhaços no circo, mas foi quando eu fiz aquela oficina que encontrei a linguagem que queria falar. Aquilo ali mudou a minha vida.

No teatro, você já foi nomeado a um Prêmio Hugo, um dos principais prêmios da área na Argentina.

Como foi a obtenção deste prêmio?

Isso foi em 2019 e foi um lindo reconhecimento a um trabalho que fez em Buenos Aires com a peça “O homem que perdeu a sombra”. Foi uma experiência bem linda, onde trabalhei ao lado de amigos. Eu não acredito muito em prêmios, mas é lindo quando você recebe esse “cafuné” que faz lembrar que você está no caminho certo.

O que significa as artes cênicas para você hoje?

Para mim, o teatro, e as artes cênicas de forma geral, são uma forma de transformação pessoal e também das coisas que me rodeiam. É através da arte que consigo transformar a minha realidade.

Quais foram as últimas experiências teatrais que enriqueceram o seu espírito?

A mais recente foi a que vivi no Brasil em 2022. Eu estive viajando por quase dois anos, apresentando meu espetáculo "Yo-Yo - Subir y Bajar Hasta Encontrarse", e passando por diversas cidades na minha van, ao lado da minha parceira Delfina e de nossa cachorra, Merella. Foi uma turnê que não tinha imaginado que aconteceria, pois fui apenas para um festival no Mato Grosso do Sul, e aconteceu de eu ser chamado para um festival em Criciúma, depois outro em Florianópolis, aí me convidaram para um encontro de palhaços em Ribeirão Preto. E foi lindo!

É interessante que esse espetáculo tenha mudado muito desde quando essa jornada começou. Em cada apresentação no Brasil, fui aprendendo mais, não só a como falar melhor na língua portuguesa, mas também por diferentes experiências. Então, ele foi crescendo e foi tomando muito mais personalidade. Eu gosto muito quando acontecem essas mudanças, quando posso aprender com cada apresentação, porque acho que a cena é uma pequena parte simplificada da nossa vida. Tem muito da gente mesmo nessas cenas e essa viagem para mim foi muito enriquecedora a meu trabalho como um todo.

Como é a sua relação com o Brasil?

Nossa, após essa experiência, o Brasil é minha segunda casa. Foi um processo de muito amor. O país foi como uma mãe para mim, porque me abraçou muito forte, e eu especialmente esse abraço. Eu estava lidando com algumas coisas pessoais e o Brasil me deu uma força que eu precisava, e por isso eu estou muito agradecido. Sou muito grato a todas as pessoas, a esse povo maravilhoso, que me deu muito carinho.

Como é viajar para fazer teatro pelo mundo fora, conhecendo países como Áustria, Alemanha e Itália?

É sempre enriquecedor poder conhecer e compartilhar a arte, viajar pelo mundo, ver outros lugares e outras culturas. E eu, que trabalho com palhaçaria, gosto dessa universalidade do riso. Que muitas pessoas, de lugares diferentes, riem das mesmas coisas. Eu gosto de encontrar esse lugar comum, porque aí é uma forma de comunicação que é igual para todos. Eu aprecio as diferenças, mas me encanto com as semelhanças.

O Cirque du Soleil é referência mundial nas artes cênicas. Como foi sua experiência na companhia?

Eu fiz o casting há muito tempo, em 2009, quando estava começando uma carreira e fiquei em uma base de dados deles. Passou um tempo, eles me chamaram para um espetáculo, mas eu estava começando com uma companhia na Argentina e recusei. Alguns anos depois, voltei a me chamar para o Programa de Formação, para receber um treinamento de dois meses em patinação em Montreal. Foi uma experiência linda, pois aprendi muito e em pouco tempo. Depois, cheguei a me chamar para fazer parte de outro espetáculo, "Crystal", mas eu já estive envolvido em um projeto da minha companhia que decidiu priorizar. Agora, espero que me chamem de novo, pois vou falar sim (risos). O Cirque du Solei é uma grande referência, mas, por outro lado, eu gosto muito de ser o meu próprio chefe.


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