Metais

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Os sonhos certamente ficaram inacessíveis em meio ao emaranhado de fios já desfeitos do tom metálico.

Alina Souza

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Tenho notado semáforos inoperantes nas ruas centrais de Porto Alegre. Funcionários da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) explicaram-me que isso se deve ao furto dos cabos. Eis a nova rotina. Já não bastam os trens rodarem com velocidade reduzida porque furtaram fios, cabos e sinalizações. O cobre virou ouro na cidade. Por trás da fome por este metal, há uma fome pelas drogas. E, por trás da fome por tais substâncias psicoativas, persiste a fome por algo que amorteça o desespero, o desalento, a falta de rumo. Infelizmente o problema não se resolve somente com a prisão de criminosos. A raiz deste mal se estende para além do comprimento dos cabos, prejuízos e caos gerado no cotidiano urbano. Ao ver indivíduos em seus momentos de fissura devido à dependência química, penso no quanto de sustentação psicológica deve ter faltado em suas vidas. Os sonhos certamente ficaram inacessíveis em meio ao emaranhado de fios já desfeitos do tom metálico. Em meio a uma sociedade que repele oxidações e se proclama desenvolvimentista — porém incapaz de manter, ao longo de sua luminosa máquina, a profundidade do brilho.


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