O momento da batalha

O momento da batalha

Sentimos os efeitos de uma sociedade que valoriza a posição de sucesso, não o processo. Enaltece o ponto de chegada, não o caminho.

Alina Souza

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Estes dias fui fotografar uma fila de candidatas a vagas de emprego, e uma senhora veio me pedir, em tom mal humorado, para não aparecer nas imagens. Tudo bem, é direito dela. Porém, pergunto-me: É vergonhoso procurar trabalho? Não deveria ser. Mas sentimos os efeitos de uma sociedade que valoriza a posição de sucesso, não o processo. Enaltece o ponto de chegada, não o caminho. Vangloria a blogueira posando com taça de champanhe dentro da piscina, mesmo que ela não tenha feito sacrifício algum para conquistar tal luxo. Não encontramos nas redes sociais check-in em filas de emprego. Então, como não se ostenta o sofrimento, a angústia e a ansiedade, sentimos-nos automaticamente humilhados ao sermos flagrados no momento da batalha. A batalha real do dia a dia parece não gerar likes. Ora, frescura essa de vivermos em um mundo de aparências! Muito melhor que uma foto na piscina é a história de vida de quem se orgulha de sua dignidade. De quem mostra a face bonita, bonita justamente por ser autêntica, tantas vezes ardida de sol, carregada de tempo, empenho e suor.


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