Saber esperar

Saber esperar

Indago sobre a necessidade de querer abraçar o mundo dentro de um período limitado. Será mesmo necessário resolver diversas situações de modo mais imediato possível?

Alina Souza

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Primeiro, aviso que estes escritos são espécies de minicrônicas e não reportagens. Permitam-me às banalidades e às suas respectivas metáforas. Desta vez, desabafarei um conflito que tenho com meu micro-ondas. De manhã, coloco a caneca com leite para esquentar um minuto. Então decido fazer outra coisa que caiba no escopo de um minuto e mais um pouquinho. O problema é o “mais um pouquinho”. O micro-ondas passa a apitar insistentemente para lembrar que a sua incumbência já fora cumprida. “Peraí, tô indo!”. Ele continua, não adianta. Ora, ambição demais eu tentar arrumar a bolsa neste curto espaço de tempo. O som agudo não só me irrita, como me faz indagar sobre a necessidade de querer abraçar o mundo dentro de um período limitado. Será mesmo necessário resolver diversas situações de modo mais imediato possível? Paciência: digo isso não só para o micro-ondas, mas para a legião de ansiosos (da qual faço parte) que enche o agora com tantas atividades simultâneas, planos e expectativas e acaba por tomar o leite frio — dos males, o menor, eu sei. Mas isso vale para a vida. Que, felizmente, vai muito além desta falsa urgência condensada na superfície do hoje.


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