Vidas

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Dez anos depois, o pior dos silêncios permanece: o da impunidade. Quantos pedidos de justiça seguem sufocados?

Alina Souza

Marilene dos Santos e o retrato da sua filha Nathiele dos Santos Soares, quando ela era adolescente.

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Marilene do Santos sorri ao lembrar da filha Nathiele dos Santos Soares. É como se ela estivesse ali, incentivando-a a sempre manter as unhas pintadas. Nathiele mora no sempre. Dentro do coração de quem a ama e preserva sua memória a despeito dos comentários críticos. Além de Nathiele, mais 241 pessoas morreram vítimas do incêndio na boate que operava com irregularidades em Santa Maria. Dez anos depois, o pior dos silêncios permanece: o da impunidade. Quantos pedidos de justiça seguem sufocados? Como uma casa noturna funcionava sem saídas de emergência e iluminação adequada para tais situações, com problemas nos extintores, guarda-corpos dificultando caminhos e espumas tóxicas revestindo teto e paredes? Os culpados se ativeram na economia e nos ganhos, não lembraram que estavam lidando com vidas. Ignoraram que a plateia era feita de seres dotados de pulmões e necessidade de respirar. Agentes públicos não observaram que, por trás dos textos técnicos dos documentos em suas mãos, existia a responsabilidade sobre o futuro de centenas de famílias. Não, ninguém imaginou a tragédia. Estavam ocupados demais em simplificar esforços. Desacostumados a considerar a dimensão humana.


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