Racismo impune. Desde Pedro II

Racismo impune. Desde Pedro II

Mais um caso de racismo foi deflagrado no futebol sul-americano.

Hiltor Mombach

Torcedores do clube argentino fizeram gestos

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Mais um caso de racismo foi deflagrado no futebol sul-americano.
Desta vez em La Plata, na partida em que o Estudiantes perdeu para o Grêmio por 1 a 0, pela Copa Libertadores da América.
Mais do mesmo.
Vai passar batido.
Vídeos que circulam na internet mostram homens na torcida dos donos da casa imitando macacos e fazendo outros sinais.
Deveriam ser algemados, sair do estádio num camburão.
Devem pegar uma pena ridícula.
A impressão que se tem é de que as autoridades muitos falam contra o racismo e, nos finalmentes, nada fazem.
São cúmplices, portanto.
Lembro de um artigo que escrevi vai tempo.
Levou o nome de UMA HISTÓRIA DO BRASIL.
Thomas Elliot Skidmore é um historiador norte-americano.
Além de escrever sobre América Latina, é um historiador especializado em temas brasileiros, um assim chamado brasilianista.
É autor, entre outros livros, de Uma História do Brasil, uma síntese da história brasileira. Recomento.
O trecho abaixo é de uma coluna escrita por mim no Correio do Povo vai tempo.
Na campanha paraguaia, o Exército brasileiro engrossou suas fileiras com escravos negros. Os paraguaios contra-atacaram lançando calúnias racistas sobre os invasores chamando Pedro II de ’El Macacón’.
Thomas Skidmore relata isto em ’Uma História do Brasil’, já tratando o fato como ’calúnias racistas’.
Não vai muito tempo, os jornais argentinos abusavam de chamar os brasileiros de ’macaquitos’.
Não sei se tal artifício contagiou ou contagia los hermanos.
Em 2005, depois atacar de forma racista Grafite, Desábato promoveu esta singular frase: ’Insultar é uma coisa comum na Argentina’.
Na Argentina, pode ser.
Mas alguém deveria ter dito a Desábato que no Brasil racismo dá dor de cabeça e até cadeia. Antes de minhas viagens internacionais, tenho por hábito ler sobre os costumes do país onde irei trabalhar, saber o que ofende aquele povo, dos rigores da lei em caso de infração.
Se os jogadores não buscam tais informações, espera-se que o séquito que os cerca tenha tal cuidado.
Quem afirma que num campo de futebol os jogadores se xingam, se beliscam, se chutam, que ali se encena uma guerra, e numa guerra vale tudo, como justificativa para um ataque racial, deveria levar em conta o sentimento do ofendido.
A caminho do vestiário, chocado e abatido, Grafite se recusou a confirmar se Desábato teria dito ’alguma coisa de cunho racista’, nas palavras do um repórter:
’Não vou nem comentar para não dar ênfase’, afirmou.
Para alguns, ele deveria calar.
Pergunto: quem, quando ofendido, cala, podendo, escancarar sua revolta?
Certa feita, um cônsul argentino disse que ’a legislação aqui (no Brasil) é muito dura e o tema racial é de grande atualidade, por isso há muita sensibilidade por essas coisas e a ela se soma a clássica rivalidade futebolística entre argentinos e brasileiros’.
Parece que a legislação do trânsito também é muito dura na visão dos nossos irmãos.
Se é assim, que nos respeitem ainda mais.


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