O pequeno grande mundo do seu Paulo

O pequeno grande mundo do seu Paulo

Quando a pandemia começou, Paulo Dorsch, 68 anos, descobriu um hobby que se tornou o seu negócio: construir dioramas, cenários em miniaturas que homenageiam lugares

Christian Bueller

Paulo Dorsch mostra, orgulhoso, o diorama do Theatro São Pedro

publicidade

Ao adentrar o recinto, parece que uma viagem no tempo se inicia. O jazz da John Wilson Orchestra acaricia os ouvidos com canções de Cole Porter e George Gershwin entoadas na caixa de som pendurada na parede. No teto, réplicas de aviões penduradas como se sobrevoassem as cabeças dos visitantes. Não demora muito para saltarem aos olhos cerca de duas dezenas de miniaturas de lugares que as pessoas em geral conhecem bem: o Theatro São Pedro, o Chalé da Praça XV, a Catedral de Pedra de Canela. É em uma garagem no bairro Higienópolis, em Porto Alegre, que um universo se descortina. As peças são, na verdade, dioramas, apresentações artísticas de cenários ou eventos em forma de maquetes. O artista em questão é Paulo Dorsch, 68 anos. “Entrem, esse é o mundo”, gesticula, com simpatia, mostrando ao seu redor o local onde vive boas horas do seu dia.

Depois de 35 anos trabalhando com sonorização e rodado por muitas estradas, veio a pandemia e a necessidade de ficar em casa. Decidido a dar uma guinada em sua vida, Paulo, que já gostava de ferromodelismo e aeromodelismo, encontrou um jeito de passar o tempo. “Fiz muitos shows de Tom Jobim, Gal Costa, Caetano Veloso e muitos outros. Mas, cansei de carregar tantos equipamentos. Já que estava parado resolvi fazer a miniatura da casa do meu filho, que antiga e estilosa”, lembra. A vizinha do lado viu, achou bonito e pediu uma reprodução para ela. O mesmo aconteceu com o proprietário do restaurante da frente. O “boca a boca” impulsionou um hobby que se tornou em uma atividade voltada às homenagens. “Trabalhei muito no Theatro São Pedro, um local que tinha muita representatividade para mim. Até por isso, foi um dos mais difíceis de fazer”, revela o artesão.

Os detalhes dos dioramas chamam atenção, desde as minúcias na arquitetura, as árvores no entorno, portões e, até mesmo, as luminárias, que acendem de verdade. Especificamente sobre o prédio cultural histórico no qual passou tanto tempo, a própria memória o ajudou a conceber a miniatura. “Mas, eu gosto mesmo é de me guiar por fotos, quantas mais, melhor. Para fazer, não só a fachada, mas as laterais das casas, o mais próximo do real possível”, conta Paulo. Toda a estrutura de madeira é feita artesanalmente por ele, que complementa o serviço com materiais importados da China, como grades e vegetação.

O pórtico da entrada da cidade de Gramado, o casarão da família Chaves Barcellos, o Solar dos Câmara e o Paço Municipal de Porto Alegre foram se juntando a uma verdadeira coleção da história, não só gaúcha ou brasileira. As encomendas foram chegando e só aumentando com o passar dos meses. “O próximo a ficar pronto é um diorama da catedral de Leipzig, na Alemanha. Costumo pedir 20 dias para concluir”, adianta Paulo.

Em certo momento, Paulo pensou em desistir, mas encontrou na nora, Alessandra, uma forte incentivadora. “Quando vi, fiquei encantada, somos fãs do trabalho dele”, conta ela. Como uma espécie de empresária-assistente, ela providencia produtos como matéria-prima para a concepção das peças e busca eventos para que o sogro exponha os dioramas. Um destes momentos são as feiras que ocorrem no clube Sogipa, no bairro São João. Uma história ocorrida na última exposição emociona o artesão. “Havia feito um castelo do Harry Potter e uma menina, na altura dos seus 12 anos, disse que adorou a peça. Trazia a família para ver em todas as feiras, era apaixonada pelo castelo. Como não vendi, pensei em dar para ela, em dezembro do ano passado, na última feira que participamos. Mas ela não apareceu. Me ajudem a encontrá-la”, pede Paulo.

O ex-sonorizador criou um projeto chamado “Eternizando Memórias”, em que as pessoas podem encomendar trabalhos artesanais de casas ou locais marcantes em suas vidas. Quem tiver interesse, pode procurá-lo no https://www.instagram.com/dioramas_dorsch/. “Estou só no início”, se orgulha.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895