Sobre a Brigada e o racismo

Sobre a Brigada e o racismo

Oscar Bessi

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A era da instantaneidade midiática não é fácil. Uma imagem não fala mais por mil palavras, como antes. Agora, gera milhares de falas, quase sempre ferozes, despidas de qualquer pudor ou compromisso. A verdade é secundária. Verdade é o que se deduz, pesquisa não importa. Uma tirania da ausência de contraditório, da liberdade de pensamento, do direito de defesa. Do respeito. É o que se vê e ponto final. Acusações são divulgadas aos quatro ventos por achismo, julgamentos nascem de qualquer primeira impressão, recortes de vídeos são utilizados para dar o contexto que se bem entende. E azar dos ofendidos. Dos prejudicados.

Lamentável que a humanidade caminhe para a barbárie de pensamento, e a banalidade do argumento, justo quando se acreditava ter democratizado a chance de ter voz, e vez, através de canais como as redes sociais. A lição que fica do episódio dito como “racismo”, em Porto Alegre, na atuação da Brigada Militar, é que estamos colocando em risco princípios básicos da nossa democracia. Como ouvir todos os envolvidos. Alguém filma uma cena a partir de um determinado momento, joga isso nas redes e, instantes depois, uma avalanche de acusações sem nenhuma análise são feitas e ganham repercussão.

Até aí, nada de novo. Somos o paraíso das fake news e do argumento sem qualquer estudo. Problema é quando pessoas que, pela função que ostentam, ou pelo que dizem representar, deveriam demonstrar um mínimo de conhecimento e respeito pelas instituições. Ou, pelo menos, alguma cautela ética para se pronunciar sobre fatos só após conhecê-los sob todas as suas nuançes. E não sair vociferando ofensas rasas e pré-prontas feito robôs-papagaios. É triste saber que anda cada vez mais comum cacarejar histericamente o

que se acha que deve ser, só porque ouviu falar, e vislumbrou, num rompante oportunista, mais alguns segundos de fama, entre compartilhamentos e curtidas. Uma lástima, quando precisamos é de quem arregace as mangas e trabalhe de verdade, pelo coletivo, pois há muito o que fazer.

Há muitos anos a Brigada Militar tem, na formação e aperfeiçoamento profissional dos seus diversos níveis de oficiais e praças, nas especializações e até mesmo no recall anual de todo o efetivo, em todo o Estado, aulas incisivas sobre direitos humanos. Sobre atendimento de ocorrências com grupos vulneráveis. Sobre lei que se cumpre. Sobre atitude e proteção da vida e da cidadania, não sobre achismo e palpite oportunista. Sobre como proceder nos casos das diversas intolerâncias que existem no nosso cotidiano. E, das milhares de ocorrências diárias atendidas, Estado afora, nas 24h de todos os dias, lá de vez em quando uma gera problema.

Afinal, são seres humanos e também erram. Mas a BM toma providências na hora e corta tão fundo na própria carne quanto for necessário. A Brigada Militar há muito tempo trabalha a cidadania como base de sua formação interna, e só não sabe disso quem não se dá ao trabalho de ir conhecer como funciona a instituição. Infelizmente, há caçadores de polêmicas desocupados, mas com preguiça de fazer uma pesquisa simples.

E há os que se julgam doutos só porque cruzam a perninha em confortáveis sofás sob o split, a comer croissant e achar tudo errado lá fora, mas jamais sujaram o sapato na lama da vida real, como os lugares onde só a BM é o Estado que atende. E atende sem olhar a quem. Sem olhar a cor da pele ou classe social. Sempre será mais fácil bramir acusações sem se dar ao trabalho de ouvir o outro lado. Ditadores são assim. Surdos. Aos argumentos contrários, claro. Nunca aos seus egos e umbigos.


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