Após três décadas, Ímola é local de reverência a Ayrton Senna

Após três décadas, Ímola é local de reverência a Ayrton Senna

Uma visita ao autódromo que depois da tragédia homenageia o tricampeão

Bernardo Bercht

Estátua de Senna recebe homenagens ao longo dos anos

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A 40 quilômetros de Bolonha, 30 anos atrás a pacata e singela Imola viu o maior pesadelo da história do automobilismo se desenvolver na sua única localidade famosa, o Autódromo Enzo e Dino Ferrari. A tradicional pista, palco da Fórmula 1 desde 1963, fica muito próxima do centro. Na verdade, é só cruzar a ponte sobre o rio Santerno para adentrar no palco da velocidade. Hoje, um templo de veneração à lenda Ayrton Senna da Silva e uma lembrança a Roland Ratzenberger.

O diretor de cinema e roteirista Marco Carvalho visitou a cidade algumas vezes desde o acidente fatídico de 1994. A primeira delas, essencial para compreender o 1º de maio. “A minha visita foi um modo de desvendar o trauma”, explica. “O que era aquele lugar, de onde o carro veio, o clima do autódromo, como era o chão. Para onde o helicóptero foi com ele. Foi importante tirar da cabeça a imaginação e consolidar como realidade”, define.

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O cenário, segundo Marco, é todo antigo. A atmosfera quase surreal num momento sem corridas, quase lúgubre. “É um circuito meio estranho e a gente sabe de tudo o que aconteceu. A morte do Senna, a fatalidade do Ratzenberger. O acidente na largada, a batida forte do Rubinho”, lembra.

Senna | Foto:

“Eu queria ver onde ele morreu, sentir aquela coisa toda, o que a gente viu naquele dia trágico na Tamburello. Eu precisava ver de perto, para saber o que aconteceu”, enfatiza Marco. “É uma experiência meio estranha. Eles mudaram a curva, não é fácil localizar de primeira. O memorial fica na parte de dentro”, descreve.

A localidade é turística, não só pelo esporte a motor, mas como centro de lazer. “O parque se chama Aqua Minerale, as pessoas pagam para passar o dia lá nessas fontes”, afirma. Dentro da pista, a paisagem muda. “Tudo é muito cemiterial, portões de ferro. Parece um cemitério antigo, não é mórbido, mas obscuro.” No memorial ao tricampeão, próximo ao local do impacto, a figura de Senna chama logo a atenção. “Fomos entrando e achamos primeiro a estátua. Está sentado, cabisbaixo. Tem pequenas esculturas do carro, ele com a bandeira do Brasil, de costas. Várias cenas, se transformam em várias lembranças”, conta o cineasta.

A figura reflexiva de Senna é emoldurada por um mural colorido feito por todos que visitam a área. “Na grade de proteção perto da pista, as pessoas deixam muita coisa, basicamente oferendas para ele. Camisetas, faixas, presentes, miniaturas. Tem muita coisa antiga, amarelada, mas imagino que sempre vai se renovando em 30 anos.”

Senna | Foto:

Como o traçado mudou, achar a saída da Tamburello requer indicações. “ Por dentro consegui ver o ponto exato. O muro continua lá, tem plaquinhas, um memorial mais sucinto. Tem também uma placa para o Ratzenberger mais adiante", explica “O mais impressionante é estar lá e lembrar de toda a cena. O helicóptero subindo, a tentativa de reanimação. A terra levantando, o carro despedaçado. Acaba sendo um passeio pesado, para a gente que é fã”, admite. “Por isso não quis também andar na pista, entrar nos boxes. Eu queria só viver aquele momento, tentar entender”, pondera Marco.

O dia do acidente fez Marco viver uma solidão que uniu todos os brasileiros, um luto quase imediato da perda de um herói, tão midiático quanto passional e bem sucedido. “Tinha vários amigos que jogavam futebol na rua, no Bom Fim. Depois do acidente, tinha pouca informação eu peguei a bola e decidi que ia jogar", lembra. “Só que a cidade estava totalmente vazia. Muito atípico, ainda mais no Bom Fim. No parque, na Osvaldo Aranha. Batia no interfone dos vizinhos e ninguém desceu. Não consegui jogar”, narra. “Daí quando cheguei em casa já tinham anunciado. E eu meio que demorei a entender que isso aconteceu. Eu fiquei pensando.. Alguma coisa aconteceu, mas ele não pode ter morrido.”


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