Ataque previsível. E agora?

Ataque previsível. E agora?

O que paira no ar agora é a decisão de Israel sobre uma retaliação. O presidente Joe Biden foi claro ao manifestar seu apoio ‘inabalável à defesa de Israel’, mas instou o governo Netanyahu a não fazer qualquer ação retaliatória.

Jurandir Soares

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Aconteceu o que era previsto. A manchete da edição de sábado do Correio do Povo já alertava: “Tensão no Oriente Médio cresce e EUA vê risco real de ataque do Irã a Israel”. A fonte era o bem informado serviço de inteligência norte-americano. E a anunciada ação do Irã se constituía, na realidade, numa reação ao ataque praticado a 1° de abril pelas forças israelenses à representação diplomática do Irã em Damasco, na Síria, matando três generais do alto comando da Guarda Nacional Iraniana, além de outros quatro oficiais.

O que paira no ar agora é a decisão de Israel sobre uma retaliação. Algo que colocaria mais gasolina no incêndio bélico do Oriente Médio. O presidente dos EUA, Joe Biden, foi claro ao manifestar seu apoio “inabalável à defesa de Israel”, mas instou, enfaticamente, o governo de Benjamin Netanyahu a não fazer qualquer ação retaliatória. Destacando que os Estados Unidos não participariam dela. E o que se viu logo após os ataques de mísseis e drones iranianos, foi uma divisão do comando de guerra israelense. O sintoma de que o pedido de Biden estava sendo levado em consideração foi o levantamento do estado de emergência em Israel.

Vitória

Autoridades de países que deram auxílio a Israel na tarefa de abater os mísseis procuraram mostrar que os israelenses obtiveram uma vitória no conflito, porque 99% dos artefatos lançados contra o país foram abatidos e não houve nenhuma morte. A propósito, Israel recebeu um apoio substancial de países como EUA, Reino Unido, França e até da árabe Jordânia, que enviaram aviões caças que auxiliaram na tarefa de abater os mísseis e drones iranianos. Além disto, Israel desenvolveu vários sistemas de abater mísseis. Depois de contar inicialmente com o sistema Patriot, fornecido pelos EUA e muito usado contra os foguetes lançados pelo iraquiano Saddam Hussein, em 2002, colocaram em operação o Iron Dome, ou o Domo de Ferro, eficiente sistema que vem dando muitos resultados positivos. E ainda desenvolveram outros dois sistemas que ganham os nome de Seta ou Flecha e Estilingue de Davi.

Outro detalhe do conflito é de que o endereçamento dos mísseis iranianos foi basicamente contra a base aérea de Navatin, de onde decolaram os caças israelenses que bombardearam a embaixada iraniana em Damasco. E esta base situa-se no deserto de Neguev, portanto bem longe dos grandes centros populacionais. Fica claro que o Irã decidiu-se por uma ação muito limitada, tentando se equilibrar entre mostrar à sua população que fez uma retaliação, mas ao mesmo tempo não fazer uma provocação maior a Israel.

Rafah

O presente episódio colocou em segundo plano a guerra que vem sendo travada na Faixa de Gaza. E o presidente Biden aproveitou para, dentre as manifestações feitas ao governo de Israel, pedir para que não seja concretizada a invasão da cidade de Rafah. Sabe-se que é nessa cidade do sul de Gaza que estão concentrados cerca de um milhão e meio de palestinos, que foram fugindo dos bombardeios. Além de estarem instalados em precárias barracas fornecidas pelos serviços humanitários da ONU, estão com enorme carência de alimentos e medicamentos.

A batalha do governo Biden é por conseguir um cessar-fogo e pela chegada de ajuda humanitária a Gaza. Interessante que não se fala na questão dos reféns, que é vista como fundamental pela população israelense. Enfim, é preciso deixar baixar a poeira do ataque iraniano para se ter uma noção do que acontecerá em Gaza.

Princesa

Como curiosidade menciono um fato diferenciado. Citei que a Jordânia auxiliou Israel com seus aviões caças bombardeando mísseis iranianos. Pois um destes caças era pilotado pela princesa Salma, filha do rei Abdullah II. Ela fez o curso de pilotagem na RAF, a Força Aérea do Reino Unido, formando-se como piloto aos 19 anos. Está agora com 23 anos e tem este grande diferencial num país árabe muçulmano onde a mulher, de um modo geral, é muito descriminada. Ela pilotou também o avião que lançou alimentos para a população de Gaza.


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