Lula acordou quanto a Maduro

Lula acordou quanto a Maduro

Lula se somou a um grupo de presidentes latino-americanos preocupados com o processo eleitoral na Venezuela

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Finalmente, parece que o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, se deu conta do que é o regime vigente na Venezuela e seu representante maior, Nicolás Maduro. Lula vivia colocando panos quentes sobre as ações do ditador e chegou a tentar vendê-lo para presidentes sul-americanos como um democrata vítima de uma narrativa. Após ser alertado de que sua injustificável defesa de Maduro estava lhe custando perda de prestígio e de que o ditador estava afastando um a um seus possíveis opositores nas eleições marcadas para 28 de julho, Lula resolveu se somar a um grupo de mais de dez presidentes latino-americanos, que fizeram um manifesto expressando “preocupação” com relação à lisura do pleito. Bastou isto para Maduro considerar o manifesto uma ação “intervencionista” do governo brasileiro. E, mais ridículo, considerá-lo “escrito pelos Estados Unidos”. Vale lembrar que dentre os signatários do manifesto estão presidentes que são expressões da esquerda, como Gabriel Boric, do Chile, e Gustavo Petro, da Colômbia.

OPOSIÇÃO BLOQUEADA

A eleição na Venezuela foi acertada após uma reunião em Barbados, no ano passado, mediada pela Noruega, com a participação de representantes do governo e da oposição. Decorrência disto, os EUA chegaram a levantar algumas das sanções que impuseram à Venezuela. Porém, com o decorrer do tempo o que se tem visto é um ridículo e escancarado bloqueio da participação oposicionista. Primeiro, foi com a principal candidata da oposição, María Corina Machado, que, nas pesquisas de opinião, aparecia com 70% de preferência do eleitorado, contra 15 a 20% de Maduro. Teve seus direitos políticos caçados por 15 anos, por “traição à Pátria”, ao ter denunciado a repressão a uma manifestação popular contra o governo em 2017, que resultou na morte de 103 pessoas. Depois de muita batalha, sentindo que não conseguiria concorrer, María Corina indicou aquela que é seu “braço direito”, Magalli Meda. Esta foi alvo de ordem de prisão, na quarta-feira, 20, da semana passada, por “associação com María Corina”. Finalmente, foi escolhida a professora universitária Corina Yoris, de 80 anos. Como disse a mensagem do governo brasileiro, “sobre a qual não pairavam decisões judiciais”, mas “foi impedida de candidatar-se”. Em compensação, oito nomes de “pretensos opositores” foram registrados para dar ares de que existe oposição. Como fez Putin na Rússia.

PRISÕES E REFÚGIO

Na medida em que as candidaturas oposicionistas são inviabilizadas, crescendo a possibilidade de Maduro manter a população sob opressão e pobreza por mais oito anos, cresce também a indignação dos oposicionistas. Muitos dos quais já foram presos ou são alvo de ordem de prisão. A Argentina informou que abriga em sua embaixada em Caracas, que está sem luz, desde segunda-feira, diversos líderes de oposição. Segundo a imprensa argentina, são seis os dirigentes opositores que estão asilados na residência oficial. A lista começa justo com a segunda candidata inviabilizada, Magalli Meda. E segue com Pedro Urruchurtu, assessor de Meda, Claudia Macero, Omar González Moreno, Humberto Villalobos e Fernando Martínez Motolla. Todos, possivelmente, como Magalli Meda, fazendo parte da lista de prisões decretada pelo procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, por “planejarem ações desestabilizadoras”. Decisão tomada às vésperas da abertura de inscrições para as eleições de julho. Sabe-se que foram decretadas ainda pelo procurador-geral as prisões do secretário político do partido oposicionista denominado Vem Venezuela, Henry Alviárez, e de Dignora Hernández, uma das coordenadoras da campanha. Diante de tudo isto, segundo a agência AFP, fontes próximas da campanha de María Corina não descartaram, pela primeira vez, a possibilidade de que a própria líder opositora possa, eventualmente, ser presa. Seria, frisou uma fonte, “a única maneira em que ela poderia ser silenciada”.


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