Putin está vencendo

Putin está vencendo

Desde que a Ucrânia iniciou sua contraofensiva para tirar as forças russas de seu território, a guerra entre os dois países entrou num processo de estagnação.

Jurandir Soares

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Nas últimas semanas, no entanto, começou-se a perceber um avanço da Rússia. Não um avanço em termos de ganhar terreno, mas de ganhar batalhas. A notícia desta quarta-feira, por exemplo, dá conta de que a Rússia realizou múltiplos ataques aéreos, fazendo, inclusive, com que a Polônia tivesse que mobilizar caças para interceptar um míssil, que quase caiu em seu território.

Fato que demonstra quão perto a guerra está chegando de um país membro da Otan. Desde o início do ano, diante da estagnação do avanço das forças ucranianas, a Rússia tem driblado as dificuldades do inverno europeu ao desenvolver uma campanha de bombardeios de longo alcance. E, com esta tática, os bombardeios não se resumem à região do Donbas, tomada pela Rússia e que a Ucrânia tenta recuperar, mas, a múltiplas cidades do país. Assim, cidades que aparentemente estavam afastadas da guerra, passaram a ser bombardeadas. Desde a capital Kiev, passando por Dnipropetrovsk, no leste, Karkhiv, no norte, Mikolaiv, no sul, indo até Lviv, situada na fronteira oeste, na divisa com a Polônia. Razão da mobilização dos caças poloneses para interceptar o míssil russo. Marcante a imagem de um prédio residencial da capital, de cerca de oito andares, quase todo ele em chamas. Praticamente em todas as cidades houve mortes de civis.

Esta intensificação de bombardeios ocorre em meio às desavenças do presidente Volodimir Zelensky com o seu ministro da Defesa, general Valeri Zaluzhni. Este foi demitido pelo presidente, mas, demonstrando força, segue no cargo, tendo inclusive informado que dos 64 mísseis e drones lançados pela Rússia na manhã desta quarta-feira, 44 deles foram abatidos pelas defesas aéreas ucranianas. O que demonstra que, embora a Ucrânia tenha melhorado substancialmente o seu sistema de defesa, os artefatos que não são abatidos provocam enormes estragos no país. Até porque, segundo as agências noticiosas, chamou a atenção nesta onda o número de aviões russos envolvidos. Teriam sido ao menos nove bombardeiros pesados Tu-95MS, além de vários bombardeiros mais leves Tu-22, em diferentes vetores de aproximação: houve lançamentos do leste, do mar Cáspio e do mar de Azov. Foram empregados mísseis de cruzeiro supersônicos, de difícil interceptação, e drones iranianos como batedores para saturar as defesas aéreas. Ou seja, o drone, de pouca efetividade, faz disparar o sistema antiaéreo que depois fica sem recursos para abater os poderosos mísseis. Assim, bombardeios de todos os lados, criando um pesadelo para os ucranianos.

Em meio a esta intensificação dos ataques russos, aumentam as dificuldades para a Ucrânia receber ajuda de seu principal aliado, os Estados Unidos. Nesta quarta-feira, por exemplo, o Congresso dos EUA se viu obrigado a vetar uma ajuda para Israel, porque o presidente Biden queria incluir no pacote auxílio à Ucrânia, o que era negado pelos congressistas republicanos, sob influência do ex-presiente Donald Trump. Em pronunciamento na Casa Branca Biden disse que “o tempo para a Ucrânia está se esgotando”, refletindo uma realidade do campo de batalha. “Não podemos sair agora. Essa é a aposta de Putin”, disse. “Apoiar este projeto de lei é confrontar Putin. Opor-se a este projeto de lei joga a favor dele”. A última ajuda que Biden conseguiu aprovar para a Ucrânia foi em dezembro. Desde então o que se tem visto é um avanço russo.

Diante deste quadro, alguns cenários são traçados para a guerra. Um deles seria o presidente Zelensky, completamente enfraquecido, capitular, aceitando o domínio russo sobre os territórios que tomou, em troca da integridade do restante do território da Ucrânia. A história tem mostrado que esta nem sempre é uma boa decisão, porque quem toma uma parte do território, busca, mais adiante, tomar mais. Outro cenário, seria uma mobilização muito forte de EUA e União Europeia em ajuda à Ucrânia para reverter a atual situação. Um terceiro e muito mais perigoso, seria um envolvimento direto da Otan no conflito ao lado da Ucrânia. Afinal, as tropas da Aliança Atlântica estão mobilizadas em todo o continente europeu para o maior exercício desde o fim da Guerra Fria, envolvendo de forma escalonada cerca de 90 mil militares e dezenas de aviões e outros materiais bélicos. Seria uma guerra de proporções inimagináveis. Outro cenário é, se a guerra se arrastar ainda ao longo deste ano e Donald Trump for eleito presidente dos EUA, conforme indicam as previsões, a Ucrânia perderá seu apoio. Mas o cenário de maior probabilidade hoje é o de número um, pois Putin está vencendo.


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