Chuvas no RS: Situação nas ilhas de Porto Alegre beira desespero, dizem moradores

Chuvas no RS: Situação nas ilhas de Porto Alegre beira desespero, dizem moradores

Água invadiu casas e prejuízos são incalculáveis até o momento

Felipe Faleiro

Ilha dos Marinheiros

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Toda a cidade de Porto Alegre foi, de alguma forma, afetada pelas enchente, mas no bairro Arquipélago, a situação beira o desespero. Moradores das ilhas, onde a água veio com ainda mais violência do que nas enchentes anteriores, tiveram prejuízos até o momento incalculáveis. Ela invadiu as casas e causou preocupação, já que muitas pessoas não têm para onde ir. Assim, eles dependem apenas de si para buscar forças.

Nesta quinta, no final da manhã, a família da aposentada Sirlei Pereira começou a montar uma barraca improvisada, de maniçoba de muita chuva, próxima à casa onde mora, na Ilha das Flores, a fim de se abrigar da inundação.

“Nem dormimos à noite, a água começou a entrar e quando vimos, já estava nas nossas canelas”, relatou ela. Sua neta, Manuela Pires, disse que a ajuda até estava chegando, mas ainda era pouca.

“Estão faltando peças para nossa barraca. Vamos ter que conseguir de outra forma”, disse. A família havia começado a montagem por volta das 6h, e às 11h, ainda não havia obtido todas as peças de encaixe.

Um pouco mais adiante, a casa de Edson Figueiredo, 44 anos, já estava tomada pela água, assim como o pátio. Ele conseguiu um caminhão de mudanças com o irmão para remover itens da casa da mãe, que mora em uma residência dos fundos e conseguiu ser levada para a zona Sul de Porto Alegre, onde não alaga.

“Eu vou ficar aqui, não tenho o que fazer. Se sair, podem furtar. Tinha comprado móveis novos e eletrodomésticos depois da enchente de novembro, com o auxílio do governo, e agora perdi tudo novamente. É complicado, nunca vi nada assim”, afirmou ele.

Ao lado, seu vizinho Beto da Silva Corrêa retirou alguns itens de casa e os levou para seu veículo, estacionado mais acima, junto à BR 290.

“Tirei cobertores, roupas, comida e água. Dá para passar alguns dias. O rio vai continuar subindo”, comentou ele, que observava a enchente na sacada de sua casa.

Ilha dos Marinheiros situação é complicada

Na Ilha Grande dos Marinheiros, a chegada na rua Nossa Senhora Aparecida, a principal da localidade, era quase impossível, embora alguns poucos motoristas se arriscassem no processo. Barcos com mantimentos, roupas e móveis também eram visíveis.

A recicladora Ivonete da Silva Lemos foi uma das que passou a pé pela água suja, tanto para chegar em sua casa, que estava inundada, com água quase até a altura da cintura, quanto para resgatar uma vizinha, acamada e com quatro cães.

“Onde a gente mora, não passa carro e nem barco. Não sei como vamos fazer para tirá-la, levando nas costas ou de algum outro jeito. Eu mesma tive diagnóstico de depressão depois da última enchente e agora tomo remédios. Ainda tenho pesadelos com ela”, disse Ivonete.


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DESDE 1º DE OUTUBRO 1895