Com casas destruídas pela enchente, moradores de Novo Hamburgo improvisam apoio entre si

Com casas destruídas pela enchente, moradores de Novo Hamburgo improvisam apoio entre si

Tanto no bairro Santo Afonso quanto na Lomba Grande, eles relatam também falta de apoio do poder público

Felipe Faleiro

Na rua Humberto de Campos, bairro Santo Afonso, moradores removeram seus pertences das residências destruídas

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Dependendo, por ora, apenas da própria sorte, moradores da Vila Kroeff, no bairro Santo Afonso, e do bairro rural de Lomba Grande, ambos locais com grande vulnerabilidade social em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, lutam como podem e dizem se sentir desamparados pelo poder público diante da maior enchente da história. Ainda que a água do rio dos Sinos e suas várzeas estejam em trajetória de baixa, a área mais baixa do município ainda vive o caos, com ruas intransitáveis e somente acessíveis de barco, ou, em alguns casos, por veículos maiores.

Na rua Humberto de Campos, um pequeno porto foi improvisado. Por ele, moradores da área alagada buscam pertences ou animais em suas casas, ou mesmo vão até suas casas na busca de ver o cenário aterrador. Na tarde deste domingo, muitas residências ainda estavam inundadas até o telhado, enquanto outros habitantes permaneciam ilhados nas residências. Conforme eles, nenhuma ajuda chegou.

Milton Strassburger, aposentado, foi conduzido pelo barqueiro Ismael Barros Maciel, vendedor em uma madeireira, para que pudesse dar comida aos seus quatro gatos que não queriam sair. Quando chegou nela, pulou na água, mas desistiu. A profundidade era tamanha que ele retornou ao caiaque, amedrontado. "Volto amanhã, quando estiver mais rasa", afirmou ele. "Moro neste local há 18 anos, e estamos tristes porque a Prefeitura não faz nada, não traz um banheiro químico, e estamos todos pousando na rua". O barco pertence a Cláudio Gilberto, que disse também ter perdido a maioria dos itens.

"Cama, roupeiro, pia, fogão, freezer, nada consegui tirar. Mas vamos ajudar a quem precisa. Vou fazer o que aqui? Ficar olhando os outros? Graças a Deus, ninguém perdeu a vida aqui", comentou Gilberto. Outro morador do entorno, Sérgio Abílio Gomes Teixeira, estacionou na rua um caminhão, usado normalmente para a venda de verduras, para pôr itens de diversos vizinhos. "Tem gente que não tem para onde sair, então estou ajudando. As pessoas vão trazendo, colocando aqui. Antes da chuva, ergui tudo o que foi possível, mas ninguém adivinhava uma enchente desse tamanho", relatou ele.

Na rua Itaperuna, ao lado, mais relatos da falta de atuação das autoridades. "Foi muita água mesmo. Nunca tinha visto água aqui, ela veio até onde estamos, depois baixou", disse o aposentado Luiz Paulo de Oliveira. Os habitantes locais atribuem parte do problema a uma obra da Comusa, companhia municipal de abastecimento de água, que aterrou uma área mais acima, fazendo com que o fluxo escoasse até onde antes não chegava.

Ali, voluntários da Associação de Moradores da Vila das Flores, no bairro Canudos, chegaram com lanches e água, e distribuíram aos necessitados. Na comunidade da Integração, próximo à Lomba Grande, a Estrada Leopoldo Petry está bloqueada devido à correnteza que inundou casas, empresas, a estação de captação de água da própria Comusa, impedindo o abastecimento para o município, e ainda está passando por cima da via. A Prainha da Lomba, local turístico, está inacessível.

"Estamos com dois jipes, mais um veículo da família ajudando, passando o pessoal de um lado para outro. Há 800 pessoas ilhadas na Lomba Grande, 500 mantidas em uma igreja e 300 na Sociedade Gaúcha de Lomba Grande. A situação está bem feia para nós", relatou o estudante Bernardo Marcellus Rost. Segundo ele, a Prefeitura e demais autoridades apenas passam pelo local e não param para auxiliar.


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