Cuidadora de animais relata drama para sair de casa com 15 cães e desaparecimento do pai no Humaitá

Cuidadora de animais relata drama para sair de casa com 15 cães e desaparecimento do pai no Humaitá

Família saiu de casa na sexta-feira, mas só reencontrou pai e um dos animais na noite da última terça-feira

Correio do Povo

Momento em que Adri reencontrou o cão e o pai, que estavam em um abrigo no bairro Partenon

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O que parecia uma sexta-feira normal, com muito serviço em função da chegada do final de semana, tornou-se uma prova de sobrevivência para a cuidadora de animais Adriane Soares de Almeira. Moradora do bairro Humaitá, ela precisou sair de casa às pressas com 15 cães que estavam hospedados na sua empresa e, durante a evacuação, ainda perdeu o contato com o próprio pai, vindo a encontrar quatro dias depois, após uma busca intensa e desesperadora em função da cheia do Guaíba na capital.

Segundo ela, desde o início da manhã a água já estava presente na rua onde mora e funciona seu estabelecimento comercial, com o nível do alagamento subindo rapidamente nas horas seguintes. Isso a motivou a buscar ajuda para evacuar a região junto com o pai, a mãe e a sobrinha, além dos 15 cães. “Só que demorou até a gente conseguir carregar toda essa turma. Por volta das 12h, já não dava mais para acessar onde a gente estava. Um cliente nosso, o Bruno, que é trilheiro, conseguiu um jipe para buscar todos, mas surgiu a oportunidade de tirar duas crianças que estavam presas no telhado de uma casa e a prioridade era resgatar elas”, recordou.

Apesar disso, a família seguiu na luta para tirar todos de casa aos poucos. Alguns animais ficaram com a mãe e com o pai de Adri. Ela contou ainda com a ajuda de outros vizinhos para retirar todos os animais. “Só que, ao chegar na outra esquina, me falaram que meus pais já tinham sido levados. Eles estavam com quatro cães. Eu também não podia esperar muito para sair, pois alguns dos cães eram grandes e poderiam se afogar se eu demorasse. Então o Bruno e a minha sobrinha Manuela, além dos vizinhos, me ajudaram a carregar até um ônibus”, completou.

Mesmo salvos, Adri conta que ainda havia preocupação com os pais e os outros cães. De ônibus, ela e a sobrinha foram com os 11 cães até o Teatro Renascença e, depois, levadas para uma propriedade no Belém Novo, mas seus pais haviam ficado no Humaitá. “Quando outro resgate chegou até lá para buscar eles, meu pai acabou ficando com um dos cães em uma empresa, no segundo andar. No sábado, meu irmão tentou ir, com água no pescoço, até o local, mas não o encontrou. A partir dali, tentamos de várias formas encontrar ele”, falou a empresária.

O reencontro aconteceu apenas na noite de terça-feira, após publicações nas redes sociais indicarem que um homem encontrado em um abrigo no Partenon seria o pai de Adri, Luiz, além do cachorro que tinha ficado com ele. O reencontro aconteceu na mesma noite e Luiz contou à filha o que tinha passado. “Ele disse que ficou até a madrugada de terça na empresa junto com outro senhor, quando resolveram que era hora de sair. Eles conseguiram um barco e foram até a Arena, onde pegaram um ônibus até o abrigo. No caminho, passaram na frente de casa e a água já passou da janela. Então perdemos tudo o que a gente tinha. Mas graças a Deus, minha família e os animais estão salvos”, contou.

Na zona Sul de Porto Alegre, Adri segue cuidando de alguns dos animais que ainda não foram buscados pelos seus tutores. Segundo ela, 13 animais, entre delas e de clientes, seguem sob seus cuidados pois os tutores também foram atingidos pela enchente e estão em abrigos. “Muitos nos ajudaram a comprar ração para eles, então os cães vão ficar comigo mais um tempo, pois aqui estamos seguros”, finalizou a cuidadora.


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