“Foi o momento mais marcante da minha vida”, diz frentista que ajudou a salvar vítimas de incêndio em pousada

“Foi o momento mais marcante da minha vida”, diz frentista que ajudou a salvar vítimas de incêndio em pousada

Vanderlei Tonato foi um dos responsáveis por acionar o Corpo de Bombeiros e ajudou a evitar que o número de mortos tivesse sido ainda maior em Porto Alegre

Guilherme Sperafico

Vanderlei Tonato acionou o Corpo de Bombeiros e ajudou a tirar feridos do prédio

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A timidez, a voz trêmula e a emoção no rosto ao contar a madrugada que ficará para sempre em sua memória, contrastam com o coração gigante e a coragem do frentista Vanderlei Tonato, de 49 anos. Ele, que trabalha há seis anos no posto de combustíveis ao lado do prédio da Pousada Garoa, que incendiou e matou 10 pessoas nesta sexta-feira, foi um dos primeiros a prestar socorro, ajudou a salvar vidas e evitou que a tragédia pudesse ser ainda maior.

Na noite de sexta-feira ele retornou ao local de trabalho na avenida Farrapos e contou como foram os primeiros minutos de angústia e desespero que vivenciou. Segundo Vanderlei, era por volta da 1h30min, quando tudo começou. “Eu só vi (o incêndio) quando o pessoal começou a gritar e pedir por socorro”, contou.

De imediato, uma das primeiras reações que ele e a colega de trabalho – que atua na loja de conveniências do estabelecimento - tiveram, foi ligar para o Corpo de Bombeiros. Rapidamente as chamas se alastraram pelo prédio e, sem tempo de espera, ao ver a luta de sobreviventes, o frentista chamou dois motoristas de aplicativo que estavam no local e os três começaram a ajudar as vítimas.

Foram cerca de 10 minutos até a chegada do Corpo de Bombeiros e da Brigada Militar para o atendimento da ocorrência. Enquanto isso, em ato de desespero, algumas das pessoas que estavam no interior do prédio tentavam se jogar pela parte de trás da pousada, nos fundos do posto. “Começamos todos a se apoiar para ajudar. Começamos a ajudar as pessoas que se jogavam e conduzir elas até a parte da frente. Logo as ambulâncias chegaram e prestaram socorro”, relata.

Este momento, conforme Vanderlei, foi o que causou um sentimento de pavor. “O que mais me impactou foi o pessoal saltando para se salvar. Estavam todos desesperados e apavorados, o que é normal em um momento como esse. Mas quem tava por perto ajudou a salvá-los também”, comenta, ao dividir os méritos com os motoristas que estavam nas proximidades.

Ele relata que vários dos sobreviventes que saltaram pelos fundos tiveram ferimentos. Por isso, uma escada foi colocada na parte dos fundos para permitir que outras pessoas pudessem sair. Com a chegada do socorro, o hidrante do posto de gasolina foi disponibilizado para o Corpo de Bombeiros.

Infelizmente, apesar de todos os esforços de Vanderlei, dos motoristas e do Corpo de Bombeiros, nem todos que imploravam por socorro puderam ser salvos. “Tinha gente lá no fundo pedindo socorro, mas não tinha o que a gente fazer. Elas estavam, provavelmente, no banheiro. Não tinha como a gente acessar o local e elas não saíram. Daí juntou todo mundo e acredito que foi por isso que morreram todas essas vítimas”, lamentou.

Ainda digerindo o que aconteceu, Vanderlei relata, com certeza, que a madrugada de 26 de abril de 2024 nunca mais sairá de sua memória. “Foi o momento mais marcante da minha vida. Foram momentos de pavor. Em meus 49 anos, nunca tinha vivenciado uma situação dessas”, afirmou.

Incêndio Pousada Garoa. | Foto: Fabiano do Amaral

Correio do Povo
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