Moradores de Estrela vivem em meio a ruínas após enchente

Moradores de Estrela vivem em meio a ruínas após enchente

Cenário é de devastação em município atingido por dilúvio

Correio do Povo

Moradores vivem em cenário de devastação em Estrela

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O cenário é de guerra no município de Estrela. Quem caminha pelo Bairro das Industrias se depara com casas destroçadas, postes caídos, animais mortos e veículos aos pedaços espalhados pelas ruas. Apesar da semelhança com conflitos bélicos, o estrago não foi causado por bombardeios, e sim pela alta do Rio Taquari, que chegou a superar 33 metros no pico da cheia.

Adair Maia, de 55 anos, trabalha em um posto de gasolina. Ele mora na região há mais de quatro décadas, mas foi surpreendido pelo estrago do último dilúvio. “Desde 1981, já passei por pelo menos três grandes enchentes. Nenhuma delas se compara aos danos causados pela última. Tive que alugar um imóvel em um ponto alto da cidade, para onde levei minha família e mais duas. Foi preciso sair correndo, antes que a água nos atingisse. Perdemos tudo”, contou.

Estrela tem mais de 6 mil desabrigados. A maior parte do município está sem energia elétrica, água e sinal de telefone e de internet.

A monitora escolar Alicia da Silva, de 21 anos, mora com os pais no município. Eles administram uma paróquia que serve de alojamento para quem teve que sair de casa e também, na medida do possível, tentam fornecer alimento e água aos desabrigados.

"O problema é que a cidade está ficando desabastecida. Compramos garrafas de água em um posto de gasolina, mas só podemos entregar uma por pessoa. Dói ter que negar uma coisa tão básica como água quando pedem mais. Temos que racionar tudo, até o básico”, disse a jovem.

Maria Silber, de 69 anos, é uma das desabrigadas. Ainda se recuperando do estado de choque, ela não consegue se lembrar como deixou a moradia. “Foi tão traumático, que parece que meu cérebro apagou a memória. Lembro que foi uma correria e uma gritaria, acho que conseguimos fugir da água em um veículo”, descreve a idosa.

Um pedaço de tronco arrebentou a parede do Ginásio Desportivo, onde se reunia a associação de moradores. O principal mercado do bairro e uma academia, que havia sido inaugurada há menos de um mês, também estão em ruinas.

A Vila Tereza, localidade onde viviam pessoas de menor poder aquisitivo, praticamente não existe mais. Camila Cunha, de 31 anos, conta que, além da força da correnteza, silos que armazenavam grãos de soja que ficavam no terreno de uma empresa se soltaram e acabaram passando por cima de várias residências.

"Foram dois silos que a água levou. As peças, que pesam várias toneladas, se soltaram e rolaram por cima das casas. A Vila Tereza não existe mais. Perdemos nossa casa e nosso bairro. Pagamos vários impostos, mas será que o governo vai nos ajudar?”, questiona a moradora.

O bairro Moinhos é outra área que parece ter sido bombardeado em Estrela. De acordo com o comerciante, Alex Wolfert, de 37 anos, restam apenas três casas na localidade. Ele mora em Lajeado, mas foi para o município vizinho para tentar encontrar a mãe, o que não aconteceu.

"Estou preocupado. Não tenho contato com ela desde terça-feira. Vim para a Estrela com mantimentos para entregar para ela, mas não a encontrei. O bairro em que ela morava está destruído. É uma situação de angústia extrema”, lamentou.

De acordo com estimativas da Defesa Civil, aproximadamente 75% da área urbana de Estrela ficou submersa. O hospital do município está superlotado e só atende casos de urgência.

A esperança é que mais mantimentos cheguem ao município após a reabertura parcial da ponte com Lajeado, na BR 386. Na estrutura, que também foi inundada, está permitido o transito de pedestres e a passagem de veículos de serviços emergenciais, em uma pista. A expectativa é que as duas vias sejam liberadas para o trafego de automóveis até o final da tarde, caso não sejam constatados danos mais graves na construção.


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DESDE 1º DE OUTUBRO 1895