Moradores do dique no bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, se dizem apreensivos com nova chuva forte

Moradores do dique no bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, se dizem apreensivos com nova chuva forte

Ainda com as memórias recentes da tragédia de uma semana atrás, eles veem com preocupação novas precipitações

Felipe Faleiro

Marlise observa o arroio Luiz Rau, que fica atrás de sua casa e inundou residências próximas na enchente

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Moradores da vila Marrocos, bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, próximo ao dique cujo estouro na semana passada agravou os alagamentos no município e em São Leopoldo, estão apreensivos com a nova chuva forte que voltou a cair na manhã desta sexta-feira, acompanhada de um frio intenso. Quem pôde, já retornou para casa, mas ainda é possível ver nas ruas o cenário de destruição, com pilhas de móveis e outros entulhos atirados na calçada, sem nenhum recolhimento.

Um destes montes pertencia à residência da dona de casa Marlise de Souza. Ela contou que perdeu diversos itens, porém houve moradores que tiveram perdas totais. “Saí na sexta-feira e voltei na quarta. Aqui só se podia andar de barco”, afirmou ela. Moram no local ainda o marido, que é estofador no Centro da cidade e somente ontem pôde voltar ao trabalho, mais a sogra, que está em Gravataí, e o filho, atualmente em São Leopoldo.

Marlise conseguiu limpar a casa, mas se uma nova inundação vier, novos transtornos também virão. “Aqui foi muito complicado. Alguns pegaram água da piscina de uma vizinha que cedeu. Não estamos tomando da torneira, porque está vindo fraca. Foi o povo ajudando o povo, autoridade nenhuma veio.” Caminhando na água suja e barrenta que tomou conta da rua Presidente Neves, o pedreiro Valcir Rosa da Silva foi um dos que perdeu tudo na enxurrada.

“A água no dique está descendo bem devagar. O pessoal do outro lado foi bem pior do que nós. Não tem muito o que fazer agora, temos que esperar para ver o que vai acontecer”, relatou ele, que está atualmente sem trabalho. Ao passar uma ponte de madeira que atravessa o arroio Luiz Rau, que deságua no dique, e que, na ocasião da enchente foi superado pela correnteza, é possível ver o tamanho do estrago na Santo Afonso. Ainda há água por descer de dentro dos pátios das residências, algumas em ruínas. Grades retorcidas, ruas alagadas e barrancos desmoronados fazem agora parte do caminho destes moradores, que, ou estão ainda fora de casa, ou não sabem quando poderão voltar.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895