“Nós somos o bairro Sarandi”, afirma voluntário da enchente em Porto Alegre

“Nós somos o bairro Sarandi”, afirma voluntário da enchente em Porto Alegre

Leonardo da Silva Manganelli trabalha no resgate de moradores na região

Correio do Povo

Voluntários resgatam moradores ilhados no bairro Sarandi

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O cheiro pútrido de um cavalo morto toma conta da avenida Faria Lobato, no bairro Sarandi, na zona Norte de Porto Alegre. A morte ocorreu após o animal ter se afogado na água de um dique, que transbordou e inunda a região desde última sexta-feira. Cadáveres de gatos e cachorros também flutuam na inundação.

É nesse fluido que navega p barco tripulado por Leonardo da Silva Manganelli, de 31 anos. Ele e a família são proprietários de uma loja de roupas e itens para surfistas, também no bairro Sarandi. No entanto, desde que o estabelecimento submergiu, a principal ocupação dele é regatar pessoas e animais ilhados.

"Não precisamos focar em bens materiais, mas sim em salvar vidas. Vamos tentar reerguer o bairro, porque nós somos o Sarandi. A gente precisa apoiar os moradores. Minha casa e minha loja submergiram. Tenho um vizinho que morreu, mas ninguém consegue resgatar o corpo dele, por causa da água. Não vamos parar de trabalhar até que essa tragédia seja solucionada”, destacou.

Nesta manhã, ele e outros voluntários resgataram mais dois moradores que ficaram ilhados no segundo andar de um imóvel, na rua Domingues de Abreu. Os dois foram até o local em um bote inflável para resgatar caturritas de estimação, mas o equipamento foi perfurado e eles não conseguiram mais sair. A dupla foi acoplada na embarcação de resgate e levada para terra firme em segurança.

Leonardo se arrisca em meio a doenças. Ele conta que está com cacos de vidro cravados nos pés há dois dias, mas ainda não conseguiu retirar os objetos pontiagudos.

"Mesmo machucado, preciso continuar os resgates. Sinto que devo isso aos moradores, porque nasci e cresci nesse bairro”, afirmou ele.

Leonardo e outras centenas de voluntários se reúnem dia após dia na avenida 21 de Abril. O local se tornou ponto de referência para voluntários, que embarcam em botes, lanchas e jet-skis rumo ao resgate das vítimas.

A avenida também se tornou referência para coleta de doações e de refeições coletivas. Além disso, ainda foi montado um posto de saúde improvisado. A instalação oferece medicamentos para profilaxia para contato prolongado com água infectada. Isso diminui o risco de transmissão de doenças como leptospirose. Todos os remédios disponíveis também foram doados por voluntários.


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