Na véspera de proibição, mercados de Porto Alegre já não têm mais álcool líquido 70% à venda

Na véspera de proibição, mercados de Porto Alegre já não têm mais álcool líquido 70% à venda

Anvisa determinou retirada de produto das prateleiras a partir desta terça-feira

Felipe Faleiro

A venda do álcool líquido 70% será proibida em todo o país a partir de 30 de abril. A medida da Anvisa pretende reduzir acidentes registrados com a utilização do produto

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A partir de amanhã, quem buscar álcool líquido 70% no país não deverá mais encontrar nas prateleiras dos supermercados. Começa a valer nesta terça-feira uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que proibiu novamente a comercialização deste produto em todo o território nacional, em razão do alto risco de acidentes, como queimaduras, e por ser altamente inflamável. Estabelecimentos que já tinham estoques têm até hoje para encerrá-los.

Somente a formulação em gel e lenços umedecidos com álcool nesta concentração poderão continuar a ser comercializada. A venda do álcool líquido 70% p/p (escala peso/peso), preferencialmente em embalagens de um litro, havia sido proibida em 2002, porém foi liberada de maneira extraordinária em 2020, segundo a Anvisa, “em razão do cenário epidemiológico da Covid-19 no país, de modo a manter a oferta de produtos que possam contribuir na proteção da saúde da população”.

“Havia um número muito elevado de acidentes com álcool, pois ocorria um desvio de finalidade, já que muitas pessoas usavam o produto para acender churrasqueiras ou aquecer alimentos, por exemplo”, afirmou Ubiracir Lima, que fazia parte do corpo técnico da Anvisa na época da primeira proibição. Apenas nos primeiros oito meses de decretação da pandemia, entre março e novembro de 2020, ocorreram 700 internações no país por acidentes com álcool 70%, segundo dados da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ).

A atual medida tem surpreendido os consumidores, conforme afirmou a Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional (Abipla), que relatou concordar com a nova resolução da agência. Para Lizandra Moraes, assessora técnica de regulação e sustentabilidade da Abipla, o mercado nacional tem diversas opções para substituir este produto.

“O consumidor só deve se atentar a três pontos essenciais para ter o máximo de resultado e segurança com saneantes: jamais misturar produtos de limpeza por conta própria, sempre verificar se o rótulo possui o número de Registro ou de Notificação da Anvisa e seguir as informações de uso e manipulação presentes na embalagem”, explicou Lisandra. Na manhã de hoje, dois supermercados de Porto Alegre já não tinham mais os produtos à venda.

Para o presidente do Conselho Regional de Química da 5ª Região (CRQ-V), Paulo Roberto Bello Fallavena, a população não precisa se preocupar com a proibição do álcool 70% líquido em relação à higiene das mãos, no qual o mais indicado é a lavagem com água e sabão. “Para a limpeza de superfícies, há sim algum prejuízo, pois as alternativas são água sanitária diluída e também água e sabão, que não têm a secagem rápida desejada”, comentou ele.

Final das vendas “há meses”

Em um deles, no bairro Cidade Baixa, a gerência informou que “há meses” o álcool 70% já não é mais vendido, e que um carregamento que havia chegado há algumas semanas foi devolvido. A rede em questão afirmou que identificou, nos últimos dias, maior movimento de consumidores em busca das últimas unidades do álcool mais concentrado, e que foi reforçado o estoque do produto 46%, com apelo bactericida. Em uma unidade de outra rede supermercadista, no bairro Medianeira, na zona Sul, também somente era possível localizar o álcool 46% líquido nas prateleiras.

Na Capital, caso o consumidor siga localizando o produto na concentração 70% a partir de amanhã, pode denunciar o estabelecimento pelo telefone 156, informando endereço e nome do local, afirmou a Unidade de Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal de Saúde (UVS/SMS). A Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), em nota, afirmou que “o setor supermercadista está ciente da proibição do álcool líquido 70%”. Informou ainda que, “embora haja interesse em comercializar o produto de forma segura, acatará a decisão, retirando os estoques das gôndolas”.


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