“Perdi tudo mais uma vez”: os relatos de moradores de Capela de Santana castigados pela chuva

“Perdi tudo mais uma vez”: os relatos de moradores de Capela de Santana castigados pela chuva

Famílias estavam recém se reerguendo da última enchente que atingiu a cidade

Felipe Faleiro

Famílias estavam recém se reerguendo da última enchente que atingiu a cidade

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A aposentada Leda Mattje estava angustiada relatando problemas para chegar na residência da irmã, Celina Ávila, que estava ilhada em meio à água no sítio da família, no km 28 da ERS 240, na localidade de Pareci Velho, no município de Capela de Santana, no Vale do Caí. O trecho em questão da rodovia estava bloqueado pela subida do rio Caí. Três quilômetros antes, funcionários da concessionária Caminhos da Serra Gaúcha (CSG) avisavam aos motoristas da necessidade de tomar cuidado, em razão do acúmulo de água na pista, assim como ocorria em praticamente todas as vias do interior do município na tarde desta quarta-feira, 1.

“Ela me abanou da área da casa dela. Minha irmã tem 80 animais, e todos estão ilhados também. Ela não conseguiu tirar leite das vacas, e nem o leiteiro conseguiu passar”, contou Leda. Contatada por telefone, Celina disse que mora na casa, cuja entrada fica a cerca de 300 metros adiante da rodovia, há 54 anos, e nunca havia passado por situação semelhante. “Deu mais de um metro de água aqui, e eu espero que a água não suba muito mais”, disse a moradora do sítio. Leda ainda contou que foi visitar a irmã para ver se ela necessitava de auxílio diante da chuvarada.

Também em Capela de Santana, em torno de 30 pessoas foram resgatadas pela Defesa Civil municipal e Corpo de Bombeiros Militar de Portão das localidades de Reta do Paquete e Passo do Manduca, e levadas ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras) local. Depois de passarem por triagem médica, elas foram encaminhadas à sede da Sociedade Beneficente Juventude, clube de futebol na localidade de Divisa do Pareci. Diante da enchente inédita e histórica, o local foi escolhido por ter chuveiros e demais condições de receber desabrigados.

Entre os resgatados, estava a dona de casa Vanessa dos Santos e seu esposo, o reciclador Odair José Machado, moradores da Reta do Paquete. Vanessa é gestante de 31 semanas, e tem mais dois filhos, entre eles, uma bebê de nove meses. “Na primeira enchente, em 2023, perdemos tudo o que tínhamos, e agora perdemos o resto e mais aquilo que tínhamos recebido em doações. Agora não temos mais nada mesmo”, contou ela. Ainda segundo a moradora, a família ficou na rua entre 2h e 8h, esperando assistência, enquanto tudo se perdia dentro da residência.

“Acordamos 2h e já estava entrando água na casa. Só deu tempo de erguermos os colchões”, acrescentou. O aposentado Adão Paulo de Oliveira, que disse ser analfabeto, contou que ele e a esposa Maria Isabel de Abreu não receberam ajuda imediata da Defesa Civil local, e que todas as vezes que chove mais forte, a população da Reta do Paquete, próxima do rio Caí, é afetada. “Saí com água pelo pescoço. Fui me agarrando nas grades de casa”, afirmou o morador. “Perdi tudo mais uma vez. Mas Deus vai me ajudar e hei de recuperar”, acrescentou, emocionado.

A secretária de Assistência Social de Capela de Santana, Denise Jaques Ramos, disse que doações podem ser levadas no Cras, na rua Mena Rodrigues da Silva, número 69, bairro Imigrantes. “Precisamos de materiais de limpeza, higiene pessoal, colchões, roupas de cama e edredons”, salientou ela. “O trabalho começou hoje mesmo, e ajudamos ao longo do dia pessoas a saírem de suas casas. Pedimos ajuda e logo a comunidade se mobilizou para doar principalmente alimentos. Somos um povo muito solidário”, afirmou a secretária.


Correio do Povo
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