Trensurb é pauta de reunião entre comissões da Câmara de Porto Alegre

Trensurb é pauta de reunião entre comissões da Câmara de Porto Alegre

Empresa encara menor número de passageiros tendo necessidade de subsídios estatais para não haver reajuste aos usuários

Correio do Povo

Representantes da Trensurb pedem por maior integração entre serviços

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A Trensurb (Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre) foi pauta de reunião conjunta da Comissão de Economia, Finanças, Orçamento e do Mercosul (Cefor) e da Comissão de Urbanização, Transportes e Habitação (Cuthab) realizada na Câmara Municipal de Porto Alegre. O encontro foi proposto pelo presidente da Cefor, vereador Airto Ferronato (PSB).

O diretor de operações da Trensurb, Ernani Fagundes, disse que o trem foi concebido como um sistema estruturador da Região Metropolitana, mas que a linha estruturadora acabou não se efetivando. Para isso, o trem teria que ser alimentado por linhas de ônibus: “Chegamos a ter 500 linhas em integração, mas, ao longo dos anos, isso foi se perdendo”, ressaltou. Hoje, só há integração tarifária com Porto Alegre e Canoas, oferecendo apenas 10% de desconto ao cidadão.

Hoje há “capacidade ociosa no sistema” da Trensurb, informou o diretor de operações. O trem conta com capacidade para transportar 200 mil pessoas por dia, mas, atualmente, tem cerca de 120 mil usuários diários. Ele atribuiu esse número de passageiros aos problemas com a integração, às mudanças nos deslocamentos da população por conta da pandemia e ao transporte por aplicativos. “A queda de demanda é uma realidade no Brasil todo”, ressaltou.

O diretor afirmou que a empresa é eficiente e tem hoje um custo aproximado de R$ 9,70 por passageiro. “Nenhuma empresa de ônibus opera de Porto Alegre a Novo Hamburgo por R$ 9,70”, destacou. A tarifa é de R$ 4,50, e não haverá reajuste, informou. Ele ressaltou que, atualmente, todos os operadores de transporte recorrem a subsídios estatais para sobreviver: “Hoje, não somos mais criticados por recebermos subsídios, porque o sistema privado também está recebendo”.

Fagundes listou melhorias que ocorreram em sua gestão, como a possibilidade de pagamento por pix e por QR Code, e disse que em breve a Trensurb também irá aceitar cartões de crédito e débito. Ele informou que a empresa fez uma licitação para energia elétrica obtida por meio de fontes renováveis, e que os gastos com energia caíram de cerca de R$ 150 milhões por ano para R$ 50 milhões.

Integração

O diretor afirmou que há uma compartimentação das responsabilidades na mobilidade urbana: o transporte dentro das cidades é da alçada dos municípios; o metropolitano, do governo estadual; e o Trensurb, do governo federal. “Temos que ser cidadãos metropolitanos”, defendeu.

Ele criticou os empresários de ônibus, que, em sua visão, atuam em uma lógica de reserva de mercado, com as empresas operando em cidades específicas, e afirmou que o resultado disso é um transporte sem integração. “É preciso racionalizar o sistema, isso não tem fundamento. Encarece a tarifa, e quem paga é o cidadão”, disse. “Precisamos de operadores públicos e privados, mas a questão do transporte só vai ser resolvida se houver gestão pública”, defendeu.

Questionado pelos vereadores sobre o projeto de expansão do Trensurb para Alvorada, Fagundes disse que o alto movimento no corredor de ônibus da avenida Assis Brasil mostra que há demanda de mobilidade na direção da cidade-dormitório. A empresa está fazendo um estudo preliminar do traçado de estações, que deve ser finalizado até o fim de maio. Ainda não há um estudo de viabilidade técnica e econômica. A rota irá considerar a linha proposta para o metrô de Porto Alegre para que, no futuro, não haja incompatibilidade.

Isabel Haifuch, arquiteta e urbanista da Secretaria Municipal de Planejamento e Assuntos Estratégicos (SMPAE), disse que a crise no transporte coletivo é mundial, mas se torna mais grave no Brasil por conta da “falta de estruturação e de racionalidade do sistema”. Ela afirmou que a Prefeitura está buscando planejar a mobilidade da Capital em um nível estrutural. O Executivo irá realizar um estudo setorial para racionalizar a operação de transporte e torná-lo mais “eficiente, confiável, rápido e com custo menor para a população”, afirmou.

A partir do conhecimento do cenário atual, será possível “trabalhar na transformação do transporte da cidade”, destacou Haifuch. O estudo está em fase de contratação, terá seu termo de referência divulgado em 2024 e será concluído no final do próximo ano, ressaltou.

Manifestações de vereadores

O presidente da Cuthab, Giovani Culau e Coletivo (PCdoB), disse que “precisamos conseguir conjugar diversas questões para resolver o problema do transporte”, citando “a modicidade tarifária” e a falta de integração entre os modais. O vereador defendeu que é preciso pensar em uma vida urbana mais sustentável e nos interesses da população, e não do lucro.

Cassiá Carpes (Cidadania) criticou promessas de resolver o problema da falta de integração do transporte metropolitano que não foram cumpridas pela Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal). Tiago Albrecht (Novo) disse que o problema não se deve aos empresários do setor, mas a um “imbróglio político”.

José Freitas (Republicanos) sugeriu uma integração com as comissões da Assembleia Legislativa para tratar do tema. Karen Santos (PSOL) afirmou que há uma “máfia” no transporte da Capital e que há ilegalidades em sua operação, como no sistema de bilhetagem eletrônica.

Nos encaminhamentos, Giovani Culau acolheu a proposta do vereador Freitas de buscar as comissões da Assembleia para debater a integração e sugeriu que outros órgãos das esferas estadual e nacional sejam procurados. Ele também propôs que a Câmara faça um acompanhamento do estudo contratado pelo Executivo para reordenar o sistema de mobilidade urbana da Capital. Culau solicitou uma apresentação da Prefeitura à Cuthab, assim que o estudo for finalizado.


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DESDE 1º DE OUTUBRO 1895