Acordo entre ICMBio e ONG alemã reintroduzirá ararinha-azul no Brasil

Acordo entre ICMBio e ONG alemã reintroduzirá ararinha-azul no Brasil

Alvo de caçadores, ave típica da caatinga está em extinção desde 2000

Agência Brasil

Segundo ICMBio, existem hoje pelo mundo 163 exemplares da ave, todos vivem em cativeiro

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O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a organização não governamental Association for the Conservation of Threatend Parrots (ACTP), da Alemanha, firmaram nesta sexta-feira um acordo que oficializa a vinda de 50 ararinhas-azuis do país europeu para o Brasil. A ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) pertence à caatinga e entrou em extinção em outubro de 2000, por ser alvo de caçadores e traficantes de animais.

Essas práticas ilegais, juntamente com a destruição do bioma, fizeram com que, de uma década para outra, restasse somente um exemplar da ave, em 1990. Na década de 1980, expedicionários identificaram três ararinhas-azuis e, em nova busca, 10 anos depois, a última remanescente foi localizada, acendendo o alerta de ambientalistas. 

De acordo com o ICMBio, existem hoje pelo mundo 163 exemplares da ave. Todos os espécimes vivem fora de seu habitat natural, ou seja, em cativeiro.

A espécie é considerada endêmica da região de Curaçá, interior da Bahia, ou seja, desenvolve-se de forma natural somente naquele território. Para receber os animais, que devem chegar em novembro, o ICMBio está concluindo, em parceria com diversas entidades, a construção de um espaço, no município baiano, e espera que a soltura na natureza ocorra entre 2020 e 2024.

Na década de 1980, expedicionários identificaram três ararinhas-azuis e, em nova busca, dez anos depois, a última remanescente foi localizada, acendendo o alerta de ambientalistas. A espécie é considerada endêmica da região de Curaçá, interior da Bahia, ou seja, se desenvolve de forma natural somente naquele território. Para receber os animais, que devem chegar em novembro, o ICMBio está concluindo, em parceria com diversas entidades, a construção de um espaço, no município baiano, e espera que a soltura na natureza tenha ocorra entre 2020 e 2024.

Segundo Hugo Vercílio, analista ambiental da autarquia, o acordo de cooperação não conta com verba do governo federal, que oferece somente o suporte técnico ao projeto. Entre os parceiros, estão, além da ONG alemã ACTP, o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), a Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil), o Criadouro Fazenda Cachoeira, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade de São Paulo (USP).

A reintrodução das ararinhas-azuis já havia sido anunciada em setembro do ano passado. A medida faz parte do Plano de Ação Nacional da Conservação da Ararinha-azul (PAN Ararinha-azul), que foi estabelecido em 2012, pelo ICMBio, e já tem trazido resultados. 

Desde 2009, o número de espécimes dobrou. O total, em 2000, era de 53 e subiu para 108 em 2014. Para 2020, a projeção é que haja 166 aves no país.

Para Vercílio, a reintrodução das aves no Brasil tem um caráter especial, ao ser anunciada este ano, quando se completam 200 anos da descoberta da espécie. O achado ocorreu em Juazeiro, cidade localizada a 94 quilômetros de Curaçá. O processo de devolução das ararinhas-azuis ao ambiente natural é "algo muito difícil", mas é também, pelo ineditismo do fato, "um marco histórico", disse Vercílio.

Projeto

Em junho do ano passado, o presidente Michel Temer oficializou a criação da Área e Proteção Ambiental (APA) da Ararinha-Azul, de 90 mil hectares, e o Refúgio de Vida Silvestre (Revis) da Ararinha-Azul, com cerca de 30 mil hectares, situados em Juazeiro e Curaçá. 

De acordo com Camile Lugarini, também analista ambiental do ICMBio, os locais têm como função receber os espécimes da ave e promover sua proteção. Outra missão das equipes é difundir à comunidade local atividades que sigam os princípios do desenvolvimento sustentável, como o ecoturismo, para que tenham maior consciência de seu impacto na fauna e na flora que coexistem com ela. "Essas unidades foram criadas há um ano e a gente já tem um engajamento local para a criação de um conselho gestor e de um plano de manejo para as unidades de conservação."

Camile acrescentou que, ao planejar o centro de reprodução e reintrodução da ararinha-azul, em Curaçá, levou-se em consideração o curso dos riachos Melancia e Barra Grande. "Foi feito um buffer [zona de amortecimento] ao redor desses riachos, porque a mata ciliar que acompanha esses riachos temporários é muito importante para a manutenção das ararinhas-azuis", disse. "Não é em toda a caatinga que há a caraibeira [onde as ararinhas instalam seus ninhos], ao longo dos riachos temporários, e sim em algumas partes, e algumas dessas partes estão dentro das unidades de conservação", disse a analista ambiental.

A ararinha-azul distingue-se dos demais psitacídeos por características como a coloração de suas penas e a estrutura das asas, que são mais longas e estreitas do que as dos demais animais da família à qual pertence, como periquitos, araras e papagaios. A ave mede pouco mais da metade de uma arara azul, movimenta suas asas de forma mais lenta e tem o costume de se empoleirar sobre galhos secos de árvores altas.


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