Golpe de 64: Caminhada relembra locais de repressão e violações em Porto Alegre

Golpe de 64: Caminhada relembra locais de repressão e violações em Porto Alegre

Nova edição do projeto ocorreu neste domingo, quando completam-se 60 anos do início do regime militar no país

Mauren Xavier

Caminhada na Capital aborda locais de repressão durante a ditadura

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A vegetação cobre boa parte da fachada de um casarão na rua Santo Antônio, no bairro Bom Fim. O antigo Teatro Leopoldina, na avenida Independência foi derrubado e deu lugar a um edifício comercial. Os bares que integravam a chamada “Esquina Maldita”, na Osvaldo Aranha, foram fechados e hoje há apenas placas de aluga-se ou vende-se.

Assim, locais emblemáticos relacionados à repressão e à violação dos direitos humanos ao longo das duas décadas de regime militar em Porto Alegre acabaram por ter sua imagem modificada, passando imperceptíveis para a maioria das pessoas. Mesmo assim, ainda guardam parte da memória de como a cidade viveu após o golpe de 1964.

E para que essa memória não seja esquecida ou apagada, como pela sua destruição física ou concreto sobre placas de identificação, o projeto “Caminhos da Ditadura em Porto Alegre” foi retomado neste domingo.

Por mais de três horas, o grupo percorreu o trajeto entre a avenida Independência até a Esquina Democrática. Com o apoio de monitores de diferentes áreas, mais do que apenas recontar as histórias de repressão e violações, a atividade também permitiu reflexões, como o processo de ocupação e os espaços de resistência.

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Um dos locais do trajeto mais emblemáticos é o do casarão onde ficou o Dopinha, diminutivo do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Localizado na rua Santo Antônio, o espaço foi identificado como o primeiro centro clandestino de torturas da América Latina no regime militar. Dados apontam que ele funcionou entre 1964 e 1966. Há 12 anos houve um movimento para tornar o local um centro de memória. Porém, o projeto não avançou e atualmente segue como uma propriedade privada.

Trajeto "Caminhos da Ditadura em Porto Alegre" no 60º aniversário do golpe militar | Foto: Camila Cunha

Na década de 1960 os cursos da área de humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) ainda ficavam na região central de Porto Alegre. Com a proximidade e a presença dos estudantes, a esquina da rua Sarmento Leite e avenida Osvaldo Aranha ganhou o apelido de "Esquina Maldita", símbolo da boemia da época. No espaço, os jovens de diversos grupos sociais promoviam discussões sobre política e outros temas tabus na época, como gênero e sexualidade, sendo espaço de resistência. Após os anos 80, a movimentação mudou e, gradativamente, os bares foram fechando.

Projeto nasceu como atividade escolar

A caminhada surgiu como uma atividade escolar, relembra a pesquisadora Anita Carneiro, coordenadora do atual projeto. De uma atividade na faculdade, que seguiu para a sua dissertação, os estudos cresceram e tornaram-se no modelo da caminhada atualmente realizada. A edição deste ano começou neste domingo e será realizada sempre aos primeiros domingos de cada mês.

Segundo ela, a iniciativa é uma maneira de não deixar que essas histórias sejam apagadas ou esquecidas. Ao mesmo tempo, ressalta que desde o início da ação, novos lugares ganharam espaço no roteiro. Um deles foi a inclusão no atual trajeto do Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas (HPV), que na época recebia pessoas que passavam por torturas, mas também por envolver médicos que acompanhavam essas violações.

Para conhecer mais sobre o projeto: https://www.ufrgs.br/caminhosdaditaduraemportoalegre/. Inscrições e agendas estão disponível aqui.


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