Na programação do Festival Palco Giratório Sesc, a Cia Lumiato Teatro de Formas Animadas (DF) apresenta gratuitamente em formato on-line, "2 Mundos", que trata da colonização da América sob a perspectiva da animação, às 16h, pelo Youtube do Sesc Brasil. Concebido por Soledad Garcia (Buenos ires/Argentina), qua assinou a pesquisa e manipulação/atuação, com seu companheiro de palco e de vida, Thiago Bresani (Brasília/Brasil), o espetáculo sem texto se baseou nas pinturas de Tarsila do Amaral e de Picasso. A direção é de Alexandre Fávero, da Cia. Teatro Lumbra de Animação (RS).
A montagem se inspira na colonização da América e dos territórios do mundo todo, para convidar o espectador a viajar por um tempo passado, que encontra analogias contínuas com o presente.Ela conta a história do encontro de duas culturas opostas, onde se revelam os sentimentos e motivações mais profundas da humanidade. Quando no embate das diferenças explode a luta pela vida, a morte de um jovem acontece trazendo uma nova esperança. Apesar da temática ser trabalhada de forma poética, em virtude da violência envolvida, a classificação etária é de 12 anos. "Tem formato arena, quando apresentado em teatro. O público fica dentro da cenografia, oferecendo a possibilidade de caminhar pelo espaçaço. Muitas vezes os adolescentes deitam e ficam bastante à vontade como público, e é bem legal ver esta experiência com eles", fala Thiago sobre a produção juvenil. Sobre a trilha sonora original,marca registrada da companhia, ele comenta que tem uma importândia fundamental dentro da narrativa, "que ajuda a contar, emocionar, criar ambientações através do som", na ausência de palavras. Ela foi criada por Matheus Ferrari e Marcelo Dal Col, os mesmos do outro trabalho do coletivo, "Iara - o Encanto das Águas".
A companhia conversou com o Correio do Povo, por conta de sua participação no festival de artes cênicas. Confira:
Como começou o grupo de vocês e como foi sua trajetória?
Thiago Bresani - A Cia. Luminato foi formada em 2008, em Buenos Aires por mim e Soledad Garcia, que nos conhecemos na Universidade de San Martín, quando nos diplomamos em Teatro de Títeres e Objetos e desde então temos trabalhado com teatro de formas animais e suas linguagens: teatro de bonecos, mamulengo, teatro de mesa e de seombras. Em 2012, em Brasília, se especializou na pesquisa, produção e realização de oficinas, com a linguagem do teatro de sombras contemporâneo. Naquela época, foi a precursora no teatro formas animadas no Centro Oeste. "Iara e o Canto das Águas" é o primeiro, que viajou bastante, por mais de 30 festivais, em países da Améric Latina, tanto de teatro como de bonecos, pela Argentina, Chile, Paraguai Colômbia. É nossa primeira participação no Palco Giratório com "2 Mundos", o segundo espetáculo da cia.
A liguagem de formas animadas é bem aceita, por ser universal e acessível a vários públicos?
Soledad Garcia - Desde 2013 a gente vem circulando com "Iara", que circulou por vários países latino-americanos e em 2021 participamos virtualmente de um festival dos EUA. A linguagem é bem aceita porque encanta tanto crianças quanto adultos. A gente trabalha de uma forma como se fosse por camadas. Cada pessoa, dependendo de sua história e formação, compreenderá de forma diferente. Tentamos incluir a todos, mas com diferenciações. A gente vem participando de festivais de bonecos e de teatro. Fizemos circuito na Argentina como atração internacional. No Chile, em festival para a infância, no Paraguai, de linguagens criativas. E Colômbia, de teatro de bonecos. É bastante versátil.
O que interessa à companhia falar em seus espetáculos? Tem uma temática específica?
Thiago Bresani - Buscamos o que está próximo da gente, o que nos creca e alimenta. Com "Iara - o Encanto das Águas" trabalhamos com lendas indígenas brasileiras e nos deparamos com "Iara", que é muito conhecida e a partir disto, aprofundamos o mito que deu origem à lenda no Brasil. Sempre tivemos interesse em falar das questões que nos rodeiam na América Latina. E com a inquietação de Soledade, da data especíica de 12 de outubro, que na América Latina celebra outras cpoisas - e não o dia das Crianças e de Nossa Senhora Aparecida (padroeira do Brasil) - nos faz lembrar a chegada de Cristóvão Colombo na América, esta invasão. Daí buscamos este questionamento perto da gente e da nossa histórai, em "2 Mundos". Nossa mitologai e saber popular nos interessam.
Como a pandemia afetou vocês e como se adaptaram neste difícil período?
Thiago Bresani - Em 2020 a gente tinha uma agenda bem ocupada com o Palco Giratório e quando veio a pandemia e colocou tudo em stand by. A gente se encontrou num vazio, Tínhamos agenda até novembro, estávamos tranquilos, mas tivemos que parar até poder analisar o que faríamos e no que poderiamos contribuir. Temos dois filhos, estávamos com eles dentro de casa, e por sorte surgiram convites de criação de audiovisuais e curtas com linguagem de teatro de sombras: "Ciclos da vida" (2020) e "Alice através das sombras" (2021), junto com nossos filhos. Foi muito interessante e transformador este momento, esta adaptação necessária. No painel que será realizado com Cia. Gente Falante (no próximo dia 6, das 17h às 19h, no projeto Intercâmbios e Conexões do festival Palco Giratório), falaremos desta adaptação e do que é possivel neste momento, da linguagem do teatro de sombras nestes formatos, como estamos reconfigurando tudo agora.
Eu gostaria de destacar a importância do Palco Giratório acontecer. O fato de não ter acontecido em 2020 assustou muita gente, com o desmonte ueq está acontecendo. O Palco Giratório 2021 é de resistência, mesmo sendo virtual, sem a possibilidade da gente viajar. A gente tá aqui, as 17 ciasestão trabalhando e mantendo viva esta chama da arte. Agradeço ao Sesc por ter mantido este projeto, e dar às pessoas o aceeso à arte.
Pra terminar, é ou está sendo possível viver de teatro?
Soledad Garcia - É possível, especialmente numa linguagem mt particular. Por enquanto está sendo possivel. Em 2012 viemos pro Brasil, pra viver de nosso trabalho. Thiago falou do Fundo de Apoio à Cultura, com subsidios para montagem e circulação que vem diminuindo desde 2016, tanto a nivel nacional qunto estadual, no Distrito Federal. Mas ainda em comparação ao resto da América Latina, o Brasil tem uma democratização de acesso à cultura muito grande. Então temos que justamente lutar para manter isto e recuperar o que em outros estados já se perdeu. Ministramos oficinas, mas vivemos da circulação, da montagem dos espetáculos, e todas atividades em si. Neste momento tão particular da cultura, podemos seguir resistindo e vivendo de nossa arte.
Vera Pinto