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Verão

Especial

Dentro da sublime decadência do cabaret

Com duas sessões lotadas, versão local de “Cabaret” foi apresentada no Teatro de Arena, no último final de semana

A diretora Lara Vitoria também viveu o Mestre de Cerimônias, narrador da peça | Foto: Ricardo Giusti / CP

A escola de dança e teatro Swag Complex, de Canoas, apresentou duas sessões do musical “Cabaret” no último final de semana, no Teatro de Arena, em Porto Alegre. O projeto teve direção artística de Lara Vitoria, direção de coreografia de Matheus Costa, direção executiva de Willian Silva, produção de Arthur Bonfanti e adaptação do texto original pelo dramaturgo João Pedro da Cunha, com a participação de quase 50 pessoas entre elenco e staff. Ambas sessões estavam lotadas.

O espetáculo não começava no palco do teatro, e sim no foyer. A plateia foi recepcionada pela turma de stiletto do estúdio, liderada por Arthur, que foi responsável por iniciar o processo de imersão no cabaret. Com colares de pérolas, meias-calças arrastão e leques em mãos, os dançarinos deixaram todos com a curiosidade arregalada nos olhos, conforme o público entrava na sala de apresentação.

A escolha do local fez sentido em diferentes níveis. O formato de arena em que o palco é organizado permite que o público cerce o elenco em três lados. Atores e atrizes chegam tão perto da plateia a ponto de interagir com ela. Isso torna a experiência intimista o suficiente para nos sentirmos, de fato, dentro da sublime decadência do cabaret - onde a promessa é esquecermos os nossos problemas em meio aos copos de gin e à camada de pó acumulada no chão. 

Também não passa despercebido o trabalho da equipe fora de cena. O figurino, com espartilhos e blusas de tule, e a maquiagem marcada de vermelho e azul transportavam a plateia para a Berlim dos anos 1930. As luzes contornavam os personagens e marcavam as tensões da narrativa na hora certa; o som alternava entre as gravações das músicas e as vozes do elenco.

Além disso, o Teatro de Arena, fundado em 1967, é um espaço histórico na capital, que representa a resistência da classe artística perante a ditadura militar. Em “Cabaret”, os personagens vivem o hedonismo da República de Weimar. A protagonista Sally Bowles pode ser lida, de forma simplista, como uma dançarina bêbada que prefere existir na sua versão onírica da realidade do que encarar o que a Alemanha da época estava passando. Frequentemente lhe é atribuída uma certa inocência.

Se as nuances da performance de Liza Minelli no longa de 1972 não são suficientes para convencer o público de que Sally não é ingênua, a versão do Swag Complex é. “O nosso ‘Cabaret’ é uma adaptação da peça original, em que nós nos permitimos ter um olhar mais contemporâneo sobre eventos, figurinos e texto”, explicou o diretor Matheus Costa no início da apresentação. A equipe mostra que, na verdade, temas como nazismo, intolerância, machismo e violência não são exclusivos do século passado, e precisam ser tratados com delicadeza e responsabilidade.

E foi com a dedicação do elenco que essa sensibilidade foi transmitida. O texto, político e atual, foi entregue por atores e atrizes maduros, mesmo com poucos meses de treinamento. A escolha da produção de ter três pares de Sally Bowles e Cliff Bradshaw fez mais sentido ainda no final, quando a cena da separação dos dois foi vivida em dose tripla. 

A produção teve três versões dos personagens Sally Bowles e Cliff Bradshaw | Foto: Ricardo Giusti / CP

Um ator começava a fala, enquanto o outro terminava. Três Cliffs agrediram e três Sallys caíram no chão. Foram três golpes, no corpo e na alma, que geraram um efeito dominó em cada pessoa da plateia, intensificado pela repetição. Logo depois, o elenco completo se reuniu para a cena final. As últimas notas de “Cabaret” foram substituídas por respirações ofegantes de 30 personagens vestidos com pijamas listrados, na última busca por ar antes de serem sufocados pelo nazismo. O público ficou em silêncio.

O cabaret cumpriu com a sua promessa. Durante 1h, esquecemos dos nossos problemas, que não eram bem-vindos na arquibancada. Com um mundo de violência e intolerância do lado de fora, o cabaret se mostrou refúgio. Refúgio para os diferentes, os desajeitados e os excluídos. Quem vem de longe busca conforto em suas quatro paredes, que mostram diversidade de corpos, identidades, mentes e vivências - assim como o grupo que o apresentou.

Confira a entrevista realizada com a equipe do Swag Complex:

*Sob supervisão de Luiz Gonzaga Lopes

Caroline Guarnieri*