"Yardie" segue os passos de D., um jovem jamaicano, assistente de um camelô, que viaja para Londres para expandir os negócios de seu chefe e encontra a mãe de sua filha. Ela terá que escolher entre uma vida ordenada, o crime e seus antigos demônios. "Sua história não é muito diferente da juventude negra na Grã-Bretanha, seja ela das Antilhas ou da África", disse o ator inglês de origem africana, cujo nome é muitas vezes evocado para encarnar o primeiro James Bond negro.
"Eu não queria fazer um filme sobre as gangues, mas sobre uma pessoa que vive com um trauma e que toma decisões com base nisso", disse ele, citando "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, como inspiração. "Eu adoraria ir ao Brasil um dia desses. Eu me senti lá quando esse filme acabou e os créditos subiram. E olha que eu estava numa sala de cinema de Londres. Ele me serviu de referência consciente não apenas no tom das filmagens, mas no sentimento de autenticidade. Queria que um jamaicano que visse meu filme sentisse seu país representado ali", comentou. “'Cidade de Deus' ensinou ao mundo o que é autenticidade: aqueles rapazes e moças espelham aquele local, aquela realidade”, admitiu.
Ao longo das cenas de perseguição e tiroteio que impressionaram a Berlinale, "Yardie" mostra tradições religiosas da Jamaica ao registrar os confrontos de D. com o fantasma de seu irmão morto, que vai segui-lo pelas confusões em que ele se mete com um chefão do tráfico na Inglaterra. "A vida de D. se passa em ambientes muito masculinos. Precisava ter cuidado de não descuidar da representação do feminino. E, como as regiões de periferia da Jamaica, de onde D. vem, são recheadas por mulheres muito fortes e guerreiras, quis trazer uma personagem de lá, para nortear seu caminho”, analisou.
Pronto para repetir
Para Rupert Everett, um dos pioneiros do cinema gay e muito popular durante a década de 1990, contar uma parte da vida de Oscar Wilde foi uma escolha ainda mais lógica. O ator de 58 anos, conhecido por seus papéis em filmes como "O Casamento do meu melhor amigo" já participou de dois longas e várias peças sobre o escritor irlandês, antes de se lançar na direção de "The Happy Prince", com Colin Firth e Emily Watson. A narrativa cobre o exílio na França e na Itália do autor depois de ter sido condenado em 1895 por indecência devido à sua homossexualidade. Ele passou dois anos preso em Reading, no sudeste da Inglaterra.
Ao contrário de Elba, que não aparece em "Yardie", Everett tem o papel principal em sua produção. "Há muitos paralelos entre ser um ator homossexual e ser rejeitado ou não totalmente aceito em um ambiente fechado. O que, com certeza, foi uma das coisas que me empurrou para tentar contar esta história", explicou o britânico em Berlim. Para ele, o escândalo que atingiu Oscar Wilde foi o ponto de partida para o movimento de luta pelos direitos dos homossexuais.
Mas por que fazer um novo filme sobre esse personagem, especialmente após a biografia realizada em 1997 por Stephen Fry? Para mostrar esta página menos conhecida de sua vida e seu lado autodestrutivo, responde Everett. Considerado arriscado, este projeto foi concretizado graças a fundos da Bélgica, Alemanha e Itália. Após a experiência, Everett diz que está pronto para continuar atrás da câmera, sem mencionar projetos específicos. Um desejo compartilhado por Idris Elba, que exclui fazer filmes com unicamente personagens negros. "Eu posso filmar todas as culturas", diz o ator de 45 anos, considerando ser perigoso categorizar filmes desta forma.
AFP e Agência Estado